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Cidade americana reprime com força atos pequenos

Ferguson realizou mega-operação contra protestos de menos de cem pessoas

Avenida que não podia ser fechada por quem se manifestava contra morte de jovem negro é via quase sem trânsito

RAUL JUSTE LORES ENVIADO ESPECIAL A FERGUSON

"Hey, Brazil!", gritam manifestantes na avenida West Florissant, que virou o epicentro de protestos contra a violência policial e pedindo justiça em Ferguson, no Estado americano do Missouri.

O número de pessoas era tão reduzido que já tinham se familiarizado com os jornalistas. Repórteres tinham de caminhar o tempo inteiro, seguindo os manifestantes, que foram proibidos de ficar parados ou se aglomerar, "para preservar o trânsito".

Bastava um grupo de 20 pessoas se sentar à sombra de uma lanchonete para uma coluna de policiais se aproximarem dizendo "circulando, circulando". Policiais ficavam empurrando jornalistas e manifestantes para duas "áreas designadas" à mídia e aos protestos, uma longe da outra. Onze jornalistas foram presos fazendo o seu trabalho, alguns algemados.

Para quem tentar achar semelhanças entre os protestos pelo assassinato do jovem negro Michael Brown, 18, e os atos no Brasil de junho do ano passado, é preciso conhecer a escala de Ferguson.

Com 21 mil habitantes, na região metropolitana de Saint Louis, Ferguson testemunhou um protesto de no máximo mil pessoas, no último domingo (17), após um desastrado toque de recolher.

Na maior parte do tempo, as passeatas juntavam menos de cem pessoas. A "avenida Paulista" que não podia ser fechada pelos atos, a West Florissant, tem trânsito leve.

Nos dias em que a reportagem estava lá, o trânsito era principalmente de carrões com motoristas negros que passavam buzinando e com braços erguidos para apoiar os protestos. Alguns tinham mensagens nos vidros, em giz, "mãos ao alto, não atire".

"Nunca vi uma repressão tão grande a um protesto em sua maior parte pacífico. Uma polícia militarizada que não tem nada a ver com a polícia comunitária, que conhece os moradores e está lá para protegê-los", disse à Folha Rashad Robinson, da ONG Color of Change, que promove participação política de negros americanos.

Para ativistas que partiram de outras cidades para se unir aos protestos, é uma tendência de coibir manifestações que se acentuou após o 11 de Setembro. Os atos de milhares contra o Vietnã e a segregação racial viraram história.

"Mas é importante lembrar que os jovens, muitos de elite, do Occupy Wall Street, puderam ocupar um parque em Nova York por três meses e foram dispersados sem uso de gás lacrimogêneo ou balas de borracha, que é como os negros de Ferguson foram tratados", afirma Robinson.

A questão racial também é levantada pelo gerente de rede de lanchonete J. J. Rone, 39, que foi protestar. "A polícia tem sempre mais suspeita do nosso comportamento. Tenho um bom salário, dirijo um Cadillac e a polícia me para todo mês para checar se não é roubado", diz.

Dos 53 policiais da cidade, só três são negros. A Polícia Rodoviária, que foi mandada para lá, e a Guarda Nacional também são majoritariamente compostas por brancos.


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