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Entrevista - Shiraz Maher

É tarde demais para tentar acabar com Estado Islâmico

Agora só é possível conter expansão da milícia radical, afirma especialista

Para ex-extremista e pesquisador do King's College, nova facção é mais organizada que a rede terrorista Al Qaeda

LEANDRO COLON DE LONDRES

Coordenador de um centro de pesquisa acadêmica sobre conflitos na Síria e no Iraque, o britânico Shiraz Maher, 33, é categórico em entrevista à Folha: é "tarde demais" para o Ocidente tentar acabar com o Estado Islâmico (EI).

A facção radical vem tomando territórios no Iraque e na Síria e, na semana passada, divulgou vídeo com a decapitação do jornalista americano James Foley.

Maher afirma que o EI é "mais extremista e mais inteligente" do que a Al-Qaeda.

Crescido na Arábia Saudita e de origem paquistanesa, o pesquisador é membro do Centro Internacional de Estudos de Radicalização do King's College, em Londres.

Ele ganhou fama no Reino Unido por ter sido extremista no passado e, recentemente, por manter contato com alguns dos "mais de 500" jovens britânicos que afirma terem sido recrutados para a jihad (luta sagrada).

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Folha - Qual sua avaliação da ação do EI na Síria e Iraque?
Shiraz Maher - Não é a primeira vez que uma organização toma um território. Vimos isso no Afeganistão, no Paquistão, na Somália. Mas, em todos esses casos, o Ocidente interferiu, e os grupos perderam terreno.
Mas não há, agora, apetite do Ocidente para fazer algo na Síria ou no Iraque. Além disso, as forças iraquianas e sírias são incapazes. O EI está muito fortalecido e é muito difícil fazê-los recuar.

Há forma de contê-los em curto prazo?
Qualquer ação vai levar anos. Acredito que vamos ficar ouvindo falar do EI por pelo menos mais cinco anos, dez anos. É um grupo com bilhões de dólares e combatentes de todo o mundo.
O EI foi estimulado pela guerra da Síria (onde luta contra o regime de Bashar al-Assad). Começou a tomar territórios e foi inteligente, tomando grandes áreas de campos de gás e petróleo.
Depois, entrou no Iraque rapidamente e com sucesso. Foi muito esperto em recrutar combatentes estrangeiros. Traz muita gente da Tchetchênia e da Bósnia. O capital humano de mais valor na área militar é o combatente com experiência.

Eles são mais extremistas que a Al Qaeda?
Mais extremistas e mais inteligentes. A principal diferença é que a Al Qaeda é uma organização terrorista, enquanto o EI era uma organização insurgente que agora se declara um Estado, que oferece serviços sociais, uma alternativa de sociedade. Não há só combatentes. Querem operar como um novo país.

A esta altura, o que deveria ser feito pelas potências?
Não combatê-los significa que o EI vai continuar crescendo e mexendo no mapa do Oriente Médio. O Ocidente pode tentar ir adiante para tentar tirá-los, acabar com eles, mas é muito tarde agora. É preciso encontrar uma forma de conter a expansão, mantê-los onde estão agora.

Como avalia a divulgação do vídeo da decapitação do jornalista James Foley?
Foi feito para chamar a atenção do mundo, e eles conseguiram. É essencialmente uma chantagem contra o presidente americano, Barack Obama. É algo poderoso porque eles têm outros reféns cuja vida dizem depender de Obama. Fez com que todo mundo do Ocidente parasse e prestasse atenção.

Mídias sociais contribuem para esse recrutamento, não?
Com certeza. A mídia social humaniza os combatentes. Antes você lia sobre Iêmen, mas não sabia muito, era um mistério. Agora, esse jovem pode mandar mensagem de Manchester e pensar: ele é como eu. Isso é muito poderoso.

Como evitar o recrutamento?
É muito difícil porque não é ilegal pegar um avião para a Turquia. É muito difícil rastrear, move-se muito fácil com passaporte europeu. Os britânicos são parte de uma estratégia de ambição global do EI. Os europeus são importante porque têm passaporte, podem se mover facilmente.

O sr. tem contatos com eles?
Sim, eles conversam por alguns meses e somem. Vinha conversando com um no ano passado; desde fevereiro, parou de falar comigo. Ele estudou na Queen's University. Foi convencido a ir para a luta. Não era extremista, dizia que era terrível sequestrar, e lá se transformou em radical.

O sr. já foi um extremista?
Em 2001, eu era extremista, não terrorista, de um grupo chamado Hizb ut-Tahrir, em defesa de um Estado islâmico. Era um movimento global e político. Fiquei até 2005, e deixei porque vi que era perda de tempo. No extremismo, é preto ou branco, não tem cinza. Mas o mundo tem muitas coisas cinzas.


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