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Marcos Caramuru de Paiva

Introspecção chinesa

Processos antitruste iniciados contra empresas estrangeiras geram grandes interrogações

Os chineses têm passado recentemente por um processo de introspecção. Há alguns anos, o país parecia encantado com os estrangeiros, mergulhado na proposta de se internacionalizar. As Olimpíadas de 2008 e a Exposição Universal de 2010 foram oportunidades para a China mostrar-se ao mundo e incorporar o mundo à sua realidade. Não apenas abrigar empresas multinacionais, o que já vinha ocorrendo desde que a economia abriu-se, no final dos anos 70, mas também incorporar hábitos e o gosto de fora.

O momento atual é outro. Com a expansão dos blogs em mandarim, das compras on-line, das redes sociais, os chineses passaram a comunicar-se mais entre si e a se descobrir. E, em função da barreira da língua, os estrangeiros ficaram de fora. Não se trata de uma renovação do espírito nacionalista que marcou os anos da China fechada. Mas da reiteração do prazer de ser chinês e da redescoberta de um sentimento que sempre existiu: o de que a China e os chineses são diferentes.

Nos últimos 15 dias, muitos observadores da realidade local passaram a se perguntar em que medida esse sentimento, tão visível nas relações interpessoais, teria contaminado a economia. Uma série de processos antitruste iniciados contra empresas estrangeiras como Microsoft, Mercedes, BMW, Toyota, Chrysler, Audi, entre outras, geraram grandes interrogações.

Os processos não são exatamente de defesa da concorrência. Estão mais no campo da defesa do consumidor. No caso da Mercedes, por exemplo, as autoridades entendem que quem compra um carro fica dependente das autopeças. O fornecedor das autopeças opera, assim, um monopólio. E deriva vantagens tão evidentes disso que, se as peças fossem adquiridas, uma a uma, alcançariam, no conjunto, um preço mais elevado do que o do próprio automóvel.

Dois fatos curiosos chamam atenção nos processos. O primeiro é o efeito inusitado: proteger o consumidor de alta renda, que dispõe de recursos para adquirir um carro de luxo. O segundo, um sutil viés em favor das empresas nacionais, embora todos saibam que quem dirige uma Mercedes tem muitas opções de veículos de luxo no mercado e não vai, de forma alguma, comprar uma marca local.

As autoridades fazem questão de dizer que não estão focadas apenas nas empresas estrangeiras. Os processos contra empresas chinesas é que não ganham a mesma visibilidade. É possível, mas isso não diminui a impressão de que as estrangeiras entraram no radar. Já não são vistas apenas de uma perspectiva positiva.

A China está convencida de que sua maior atratividade está no mercado. Com os processos antitruste, o governo manda um recado: quem quer que se habilite a alcançar o consumidor local terá que operar dentro de limites, sob vigilância, sem os ganhos exorbitantes do passado recente. As empresas parecem estar entendendo a mensagem. Várias delas rapidamente reduziram seus preços e se mostraram confortáveis com as multas que lhes foram impostas.

Não há como brigar com a China. É sempre melhor chegar a um entendimento.


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