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Clóvis Rossi

Tentando entender os 'marineiros'

Ponderável fatia dos que deixaram a pobreza ainda é 'vulnerável' e, por isso, afirma querer a mudança

Não foi só a mídia brasileira que alçou Marina Silva a estrela do noticiário, a ponto de todos os três principais jornais do país dedicarem à sua ascensão as manchetes desta quarta-feira, 27.

Boa parte da imprensa internacional foi pelo mesmo caminho, do portentoso "Wall Street Journal", o jornal de maior circulação nos Estados Unidos, ao modesto "El Deber", da Bolívia.

O WSJ trata Marina como "estrela ascendente". Em "El Deber", Carlos Morales acha que "Silva está sabendo explorar com competência o cansaço da sociedade brasileira com a polarização entre PT e PSDB".

De minha parte, digo que, em 40 anos de cobertura de eleições, no Brasil e no mundo, não lembro ter visto ascensão tão fulminante.

Como repórteres não têm tempo para ruminar sua perplexidade, ao contrário de cientistas políticos, calhou de encontrar em um relatório divulgado nesta mesma quarta-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento uma primeira aproximação para entender o fenômeno.

Trata-se de um estudo sobre a redução da pobreza na América Latina e no Caribe. Neste século, 56 milhões de pessoas em todo o subcontinente foram içadas da pobreza (foram Bolívia e Peru os que tiveram os melhores resultados).

O Brasil também foi muito bem, a ponto de a pobreza ter-se reduzido de 43,1% da população, no ano 2000, para os 24,5% de 2012.

À primeira vista, é um dado para transformar Dilma Rousseff em favorita, em vez de Marina (transitoriamente ou não, logo se verá).

Mas uma olhada no detalhe ajuda a entender a subida de Marina: esses quase 20 pontos percentuais de redução da pobreza não foram diretamente para o suposto paraíso da classe média. A fatia de "vulneráveis" tornou-se a maioria relativa, subindo de 32,3% em 2000 para 37,3% em 2012.

Vulneráveis, segundo o Pnud, são os que podem ver seu bem-estar severamente afetado em caso de qualquer crise. "Não podem ser classificados como pobres, mas não ganharam acesso à classe média", explica Jessica Faieta, diretora do Pnud para América Latina e Caribe.

Parece lógico supor que esse contingente é parte daquele numeroso grupo que clama por mudanças, conforme apontam todas as pesquisas. Parece igualmente lógico imaginar que essa turma aderiu à candidatura Marina na expectativa de que seja ela a condutora das mudanças que tirem o pessoal do purgatório da vulnerabilidade.

Ainda mais que, sempre segundo o Pnud, o maior responsável pela redução da pobreza não são os programas de transferência de renda, tipo Bolsa Família, mas o crescimento econômico, que responderia por 63% da queda da pobreza.

Como o crescimento, nos anos Dilma, caiu dos 19,6% do segundo período Lula para 7,4%, é natural que eleitores busquem uma alternativa. Estão encontrando Marina.

Se continuarão ou não apostando nela, é muito cedo para dizer. Até porque a pesquisa do Ibope traz uma aparente incoerência: aumenta o número dos que acham bom o governo Dilma, mas diminui a intenção de voto nela.

crossi@uol.com.br


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