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Leonardo Padura

Reinventar a vida

Sob muitos aspectos, o mundo de hoje é melhor que o de ontem, mas me pergunto: somos melhores?

O homem contemporâneo (pós-moderno e informatizado) é mais pleno e feliz que o habitante do mundo de, digamos, meio século atrás? A sociedade em que vivemos hoje é melhor que a que as pessoas de minha geração conhecemos em nossa adolescência e juventude?

Já se sabe que qualquer tentativa de comparação da relação dos homens com suas respectivas épocas históricas é absurda, com certeza tendenciosa.

Enquanto alguns defendem nostalgicamente a possível existência de um passado melhor, outros, com igual direito, podem exaltar o futuro, que já é presente, repleto de novas possibilidades, pleno de testemunhos do progresso.

E nunca como neste último meio século a sociedade humana tinha evoluído com tanta rapidez em todos os aspectos da estrutura social: na política, na economia, na ciência, na cultura.

Os novos descobrimentos e contribuições, especialmente os relacionados à informática e a ciências como a genética, fizeram de nossos próprios passados pessoais territórios que parecem cada vez mais distantes no tempo, mais desligados da forma em que hoje podemos enxergar e entender cada uma das dimensões da vida.

É fato que no período de duas décadas não apenas vimos o mundo transformar-se, geográfica e politicamente, mas também testemunhamos muito mais que uma troca de guarda geracional ou um salto progressivo.

Na realidade, assistimos a uma mudança de era em que se concretizou o fim da Idade Moderna, industrial e analógica, para cair em cheio nos tempos pós-modernos, pós-industriais e da virtualidade informatizada. E nada mais é como era: nem mesmo as relações das pessoas com seus semelhantes... E com elas próprias.

Meu colega Frei Betto, partindo de suas perspectivas, crenças e experiências, acaba de lançar um livro delicioso e edificante que me ajudou a entender até que ponto é dramático esse salto histórico que sofremos em corpo e alma.

"Reinventar a vida" (editora Vozes, 2014) é uma soma de pequenos comentários sobre o cotidiano, o social e o transcendente, mas vistos desde a altura do ser humano.

Com seu habitual humanismo cristão e fé no homem, Betto nos coloca diante dos signos de nosso tempo presente e nos adverte de alguns de seus perigos: desde o império do consumismo até o onipresente medo da decadência física (a velhice), desde a perda dos pensamentos utópicos até a alteração da comunicação entre as pessoas.

Penso que, sob muitos aspectos, o mundo de hoje é melhor que o de ontem: é fato que avançamos.

Mas, partindo dessa certeza do progresso, me pergunto, com Betto: somos melhores, melhoramos nossa vida?

Ou, em sintonia os tempos, teremos que reinventar a vida para não perdermos o que de bom já tivemos uma vez e graças ao qual pudemos progredir?

Em seu livro, Frei Betto oferece algumas respostas possíveis a este dilema da pós-modernidade digital. Vale a pena confrontar opiniões.


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