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Califado que EI prega não funcionaria na prática, diz estudioso
Para Eugene Rogan, professor em Oxford, concepção defendida pela milícia é impossível de ser concretizada
Ao mesmo tempo, segundo pesquisador, líderes da região temem combater facção por indisposição com fiéis
Quando fincaram a bandeira do fanatismo em uma região que inclui partes da Síria e do Iraque, proclamando ali um "califado", os militantes do Estado Islâmico tentaram emular uma estrutura política já extinta e, ademais, inviável durante o século 21.
"Não consigo imaginar como o califado poderia funcionar", diz à Folha o historiador Eugene Rogan, professor em Oxford e autor de "The Arabs: A History".
O Estado Islâmico tenta recriar o modelo instituído na península Arábica no século 7, a partir da liderança do profeta Maomé.
Leia a seguir trechos da entrevista.
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Folha - O Estado Islâmico pode ser, historicamente, considerado um califado?
Eugene Rogan - Há um limite. O califado, para muitos, terminou com a queda da dinastia abássida (750-1517). Nesse sentido, é entendido como sucessões de dinastias, a partir do profeta Maomé.
Os otomanos, quando ocuparam o Egito, levaram o título de califa para Istambul. O fim é quando Ataturk [criador da Turquia moderna] encerra a instituição em 1924.
O Estado Islâmico está isolado, religiosamente?
Eles estão isolados no sentido de Estado. Todos os países no Oriente Médio têm interesse em preservar a estrutura que o Estado Islâmico está tentando subverter.
É um isolamento político da milícia, então?
Ambos estão relacionados. O reconhecimento da autoridade do califado se dá quando os muçulmanos dão o seu reconhecimento ao califa.
É assim que alguém se torna califa. O Estado Islâmico falha nesse sentido, pois só tem o reconhecimento de um grupo pequeno de pessoas com a mesma mentalidade, e não da maioria dos muçulmanos ao redor do mundo. Não é suficiente.
Qual é a imagem de "califado" que muçulmanos têm hoje?
Eles enxergam o califado como um artefato histórico, e não como uma extensão de sua religião.
De que maneira Abu Bakr al-Baghdadi, proclamado califa do Estado Islâmico, irá tentar reforçar sua autoridade?
Ele se declarou califa para tentar criar entusiasmo religioso na região. Ele está se firmando conquistando território no Iraque e na Síria.
Como eram os califados históricos, estruturalmente?
"Califado" significa "sucessão", em árabe. O profeta Maomé era o líder ideal para o islã, mas ele era mortal. A ideia de califado é a procura por outro muçulmano para liderar a comunidade islâmica. As lideranças religiosa e política eram desempenhadas pela mesma pessoa.
Esse modelo pode se repetir, no Estado Islâmico?
Não consigo imaginar como o califado poderia funcionar no século 21. Nenhum líder muçulmano reconheceria a autoridade de alguém fora de suas fronteiras. O sistema de Estados é contra a ideia de um califado. É impossível concretizá-lo.
A região irá se mobilizar contra o Estado Islâmico?
Muitos dos países na região não querem ser vistos combatendo esse movimento diretamente. Preferem que forças externas eliminem a ameaça. Os militantes dizem que agem em nome do islã, com o apoio do califa, e são considerados muçulmanos praticantes --nenhum líder quer ser visto os oprimindo.