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Alexandre Vidal Porto

Presidenta ou presidento?

País ainda precisa de uma 'presidenta', uma mãe da pátria --pode até ser um homem, não faz diferença

Nada é por acaso. Você marca de encontrar com amigos para um café rápido numa livraria e, enquanto espera, cai-lhe nas mãos um livro que adorava, mas que não via há anos.

Aconteceu comigo nesta semana em Nova York. O livro, "Feminist Legal Theory" (teoria legal do feminismo), das professoras K. Bartlett e R. Kennedy, era meu companheiro num curso de jurisprudência feminista, no qual eu era o único aluno do sexo masculino.

No livro, as autoras partem do pressuposto de que homens e mulheres têm sensibilidades e entendimento do mundo distintos. Algo tipo homens são de Marte e mulheres são de Vênus. Para elas, a lei e os órgãos oficiais reproduzem a visão masculina do mundo, e um sistema de governo justo deveria incluir elementos da sensibilidade feminina em suas ações e instituições. Um governo com menos testosterona e mais estrogênio.

O presidente Lula parecia saber dessa necessidade. Tanto que, ao apresentar a candidata Dilma Rousseff, realçava suas qualidades femininas. Apresentava-a como a "mãe" do PAC. Uma vez eleita, a própria Dilma passou a apresentar-se à nação como "presidenta". Eu vibrei. Adorava a ideia de que teríamos "uma governa".

Nada como o tempo para colocar as coisas em perspectiva. Ao longo da Presidência Dilma, nunca percebi elementos maternais ou carinhosos. Ao contrário. É conhecida em toda a Esplanada a maneira ríspida e brutal com que trata sua equipe. Já fez mais de um homem grande chorar em público. À época em que trabalhava no Itamaraty, estive especialmente exposto à sua insensibilidade administrativa.

Lembro-me, por exemplo, quando ela, sem aparente razão, se recusou a tirar a tradicional fotografia com os alunos que se formavam no Instituto Rio Branco. Pensei: mãe não faz isso. Mãe reconhece o valor dos filhos. Mãe aceita os filhos como são: não quer que diplomatas sejam engenheiros. Ama e se beneficia das especificidades de cada um.

Se for apelar para estereótipos, as características que ela demonstra publicamente --de agressividade, rispidez e até sua linguagem corporal-- estão muito mais próximas de traços masculinos que femininos. Na jurisprudência feminista, Dilma deveria ser chamada não de "presidenta", mas, sim, de "presidento".

É uma pena, porque o Brasil, de fato, necessita ser governado com mais amor e cuidado. Ainda precisamos de uma "presidenta". Pode até ser um homem, ter testículos, não faz diferença, o importante é ter carinho com o país e com as instituições e tratar todo mundo igualmente, como uma mãe da pátria faria.

Mas nada como uma eleição para a gente se reinventar, não é? Campanha política dá mais resultado que livro de autoajuda.

Volto ao Brasil e encontro uma Dilma transformada. No Facebook, um amigo virtual também percebe a metamorfose e posta: "Dilma ama os LGBTs, é feminista, desafia banqueiros e o grande capital, é contra a grande propriedade rural e bate de frente com a bancada ruralista. Que mais? Ela é pataxó?".

Será que é?


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