Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Equipe de diário venezuelano repudia demissão de cartunista
Jornalistas acusam 'El Universal' de alinhamento com chavismo
Jornalistas do "El Universal" divulgaram na quinta-feira (18) nota acusando os novos donos do diário venezuelano de ter demitido a cartunista Rayma por causa de um suposto alinhamento editorial com o governo.
A cartunista foi cortada na quarta-feira (17) após publicar desenho crítico ao sistema de saúde do país em que reproduz a assinatura do ex-presidente Hugo Chávez como se fosse o eletrocardiograma de um paciente de hospital recém-falecido.
Rayma é uma das mais conhecidas caricaturistas da Venezuela e trabalhava havia 19 anos para o "El Universal", jornal privado fundado em 1909.
"Lamentamos que não siga mais conosco e encaramos [o corte] como um dos custos mais altos que a nova gestão do diário paga por moldar-se a uma linha editorial favorável [ao] governo, e que pretende matizar uma realidade agonizante para os venezuelanos de todas as esferas sociais", diz a nota.
O texto cobra do novo diretor do "El Universal", Jesus Abreu Anselmi, que explique como pretende conciliar a promessa de tornar o jornal "economicamente viável" com decisão como o corte de Rayma, que prejudicam o "propósito de recuperar a confiança perdida."
A redação alerta que milhares de leitores fieis já deixaram de comprar o jornal e que empresas suspenderão anúncios publicitários "caso persista a censura."
Em julho, o "El Universal" anunciou ter sido comprado por um recém-criado fundo de investimento espanhol chamado Epalistica. Anselmi foi então anunciado como novo presidente do jornal, mas até hoje não está clara a identidade dos investidores por trás da compra.
A mudança foi interpretada como investida de setores governistas contra a imprensa privada, que, na Venezuela, tende a se alinhar com a oposição direitista.
Anselmi nega ter vínculos com aliados de Chávez, morto em 2013, e de seu sucessor, Nicolás Maduro.
SINAIS CONFLITANTES
Uma jornalista do "El Universal", que preferiu não ser identificada, disse à Folha que o novo comando vem mandando sinais conflitantes em matéria de escolhas editoriais."A capa perdeu força e às vezes se pede que baixemos o tom de determinados assuntos. Mas continuamos publicando reportagens críticas contra o governo", disse a jornalista.
Segundo ela, a diretoria do jornal havia visto e aprovado antes da publicação a caricatura de Rayma criticando a situação dos hospitais.
"Rayma já havia se queixado publicamente por ter tido uma charge censurada em agosto. Se Anselmi naquela época tomou a decisão de mantê-la no jornal, deveria ter tido mais paciência."
A jornalista diz que a redação não decidiu o que fazer caso haja novos cortes por divergências editoriais.
Ela admite a existência de divergências internas sobre a maneira de lidar com as mudanças, mas insiste em que a equipe está conseguindo manter a unidade entre jornalistas e editores, que formam o escalão intermediário entre a redação e a cúpula da empresa.