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Saídos do deserto

Espanhóis acolhem crianças refugiadas do Saara Ocidental no verão para que elas escapem do calor de acampamentos na Argélia

DIOGO BERCITO EM MADRI

Aos oito anos de idade, ao chegar a Sevilha pela primeira vez, Hasina conhecia apenas uma frase em espanhol: "Você não é minha mamãe".

Assim, a pequena refugiada do Saara Ocidental se dirigia a Paqui Godoy, que lhe recebera na Espanha para os meses de verão como parte do projeto "Férias em Paz".

A edição deste ano foi encerrada em 22 de agosto, com o retorno de 4.500 crianças a um acampamento de refugiados na Argélia, onde passam o restante do ano. O projeto já chegou a movimentar quase 10 mil jovens, mas foi afetado pela crise atual.

"Ela tinha medo da gente, pensava que não iríamos deixá-la voltar à sua família", diz Godoy à Folha sobre o primeiro ano, que dividiu com o marido, César Rufino.

O temor se dissipou. Hasina passou o verão em Sevilha durante cinco anos seguidos. Hoje, aos 16, vive com a mesma família em um outro projeto: Godoy tornou-se sua tutora e, agora, a garota estuda na Espanha.

As campanhas são organizadas pela Delegação Saharawi na Espanha, que funciona como uma representação diplomática para o território do Saara Ocidental, hoje ocupado pelo Marrocos.

A vinda dos pequenos refugiados é custeada pelas prefeituras espanholas. Os demais gastos são por conta das famílias.

O primeiro resultado parece ser a formação de vínculos familiares. "Quando as crianças atendem ao telefone, dizem que são os filhos da tia Paqui", conta Godoy, que recebeu neste ano o jovem Salem, irmão de Hasina.

As "Férias em Paz" também têm como efeito a disseminação de informações sobre a crise política no Saara Ocidental --algo que a delegação também se interessa.

A família de Godoy, por exemplo, viajou à Argélia para conhecer um campo de refugiados provenientes do Saara Ocidental. "O clima é inóspito, com o vento e a areia açoitando continuamente todos os cantos", diz.

"O projeto permite que as pessoas conheçam a realidade do [nosso] povo", diz o delegado Abdullah Arabí. "Serve para recordar ao mundo que vivemos há décadas como refugiados."

CLIMA INÓSPITO

Mas, para além da família e da política, o projeto "Férias em Paz" tem por objetivo retirar as crianças do acampamento argelino durante os meses de clima mais severo. Refugiados lidam, no deserto de Tinduf, com temperaturas acima de 40ºC.

O delegado Arabí, que representa diplomaticamente a causa de seu povo em Madri, sugere que a alta solidariedade espanhola ao projeto possa ter explicação no processo histórico da região.

"A Espanha ainda é responsável pela colonização do Saara Ocidental", afirma Arabí. "O governo espanhol nos abandonou no deserto."

Carmen Noceda, que participa do projeto há quatro anos, diz que "a Espanha tem parte da culpa" e, assim, tem também mais conhecimento sobre essa causa.

A Folha encontrou Noceda no aeroporto de Madri. Ela se despedia da jovem Lala, 11, "que ensinou a valorizar o que temos". "Ela me ensinou, por exemplo, a fechar a torneira", conta.

No aeroporto, Jorge Morales distrai Salek, 11, com o carrinho de bagagem enquanto aguardam a burocracia da partida. "São dois meses em que essas crianças não sofrem", afirma Morales.


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