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Julia Sweig

A terceira via da Colômbia

Ao contestar o status quo e avançar o país pela estrada que o afastará da violência, Santos impressiona

Em 1935 Franklin Roosevelt disse diante de uma convenção do Partido Democrata que seus programas social, trabalhista e de obras públicas do "New Deal" tinham provocado a ira dos "oligarcas econômicos" dos EUA. Filho dessa própria classe, Roosevelt "saudou" ironicamente o repúdio de sua classe e, com "noblesse oblige", "realpolitik" e coração aberto, forjou o contrato social progressista americano que permitiu a coexistência do capitalismo com a democracia no século 20.

Seu "New Deal" gerou a "Grande Sociedade" de Lyndon Johnson; ambos, que envolveram gasto de receita governamental com população e aprovação de leis para regular meio ambiente, finanças e mercados, reforçaram a autoimagem americana de meritocracia e mobilidade social. Devido à sua capacidade ampla de limitar conflitos sociais e polarização, o contrato social de Roosevelt e Johnson conquistou a adesão de republicanos ardentes --Nixon e até Reagan--, antes de o partido sucumbir ao caos criado pelos elementos periféricos de hoje.

Décadas mais tarde, o velho consenso se metamorfoseou em outro mais bem encarnado na "terceira via" de Clinton, Blair e Cardoso, de "tanto mercado quanto possível e tanto Estado quanto necessário". Essa frase vem do presidente Juan Manuel Santos, herdeiro de uma das famílias mais ricas da Colômbia que, tendo burilado suas credenciais de linha dura como ministro da Defesa de Álvaro Uribe, hoje conduz a Colômbia por um momento transformador de sua história. Seu governo e as Farc, trabalhando há dois anos em Havana, já negociaram três dos quatro componentes principais de um acordo de paz, após 50 anos de insurgência e guerra que criaram milhões de vítimas entre mortos, sequestrados, torturados, deslocados e empobrecidos.

Em Nova York no início desta semana, ouvi Santos falar sobre conceitos como eliminar a pobreza, reduzir a desigualdade, instituir a reforma agrária e tornar a educação acessível a todos os colombianos. Seu discurso e, esperemos, as políticas que o implementem representam um contraste marcante com o que ouvi em Medellín há alguns anos, quando a sugestão de que uma reforma agrária pudesse ajudar a reduzir os conflitos rurais provocou acusações de simpatia pelas Farc. Ou quando, ao visitar Bogotá com um general aposentado e um financista de Wall Street, empresários nos disseram para não nos preocuparmos com os (então) 30% dos colombianos que sobreviviam com menos de US$ 2 por dia. Como disse um deles, isso "rende muito mais na Colômbia que em Nova York".

Oitenta anos atrás, Roosevelt lutou contra esse tipo de descaso e desdém. Santos evidentemente o rejeita e entende o vínculo existente entre paz, democracia e inclusão social. Ainda é cedo para afirmar que ele seja o Roosevelt da Colômbia. Mas, ao contestar o status quo que sua própria classe social manteve e da qual se beneficiou, e ao tentar fazer a Colômbia avançar pela estrada árdua e imprevisível que a afastará da violência política, narcotraficante e terrorista, rumo à reconciliação, a coragem política ímpar de Santos impressiona bem e tranquiliza até mesmo a esta cética.


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