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Clóvis Rossi

O medo vencerá a mudança?

No Brasil e no Uruguai, parte do eleitorado oscila entre querer mudar o jogo e temer que seja para pior

Dois dos três países sul-americanos em que haverá eleições em outubro, Brasil e Uruguai, vivem a paradoxal situação de que uma fatia importante do eleitorado emite sinais de que quer uma mudança mas, ao mesmo tempo, tem medo de que ela de fato venha e não seja boa.

No terceiro país, a Bolívia, a combinação de excelente desempenho econômico, programas sociais bem sucedidos e empoderamento das maiorias (os chamados "povos originais") dá a Evo Morales a certeza da vitória.

No Brasil, o desejo de mudança aparece em todas as pesquisas feitas desde as manifestações de junho de 2013, elas próprias uma contundente demonstração de insatisfação.

Mas a gangorra em que se transformou a cotação de Marina Silva nas pesquisas parece indicar o medo de dar o salto para uma "nova política", mal definida e não testada em funções executivas.

No início, a ex-senadora parecia ser a encarnação do espírito de mudança gritado nas ruas. Mas a agressiva propaganda da campanha de Dilma Rousseff embaçou essa imagem e fez Marina recuar ao ponto em que estava antes de ser candidata a presidente.

De todo modo, ainda há, até agora, uma maioria que vota contra o governo no primeiro turno, se somados todos os candidatos oposicionistas.

No Uruguai, repete-se, guardadas as diferenças inevitáveis, o cenário brasileiro: a Frente Ampla e seu candidato, Tabaré Vázquez, pareciam destinados a ganhar sem grandes sustos, tal como ocorria com Dilma antes da irrupção de Marina.

Favoritismo mais facilmente explicável que o de Dilma: o Uruguai do presidente "Pepe" Mujica cresceu 4,3% em 2013, o desemprego é de apenas 5,7% e a Frente Ampla, em dois sucessivos governos, reduziu a pobreza de 34,4% a 11,5% da população.

De repente, no entanto, começou a crescer uma alternativa que se apresenta como "mudancista", embora seja de um partido tradicional (o Nacional ou "blanco"). Chama-se Luis Lacalle Pou e tem apenas 41 anos, contra os 74 de Tabaré, o que está se revelando um ativo eleitoral.

É verdade que a Frente Ampla ainda lidera com certa folga no primeiro turno, mas, se não ganhar nele, pode perder na segunda votação para uma aliança entre "blancos" e "colorados", as duas agrupações que dividiram o poder até o crescimento da Frente Ampla.

Na média de cinco pesquisas, os oposicionistas têm 45,5% das intenções de voto contra 41,5% da Frente Ampla.

Somem-se o rápido desgaste de Michelle Bachelet no Chile e as colossais dificuldades do chavismo na Venezuela e do kirchnerismo na Argentina, e parece em vias de esgotamento um modelo que funcionou bem do ponto de vista social mas, ao mesmo tempo, criou expectativas e, por extensão, demandas que já não consegue atender.

Demandas principalmente por serviços públicos de qualidade minimamente aceitável.

É sintomático que, no Brasil, a disputa esteja mais acirrada na fatia da classe média que deixou o inferno da pobreza, mas não atingiu o paraíso da classe média.

Teme voltar atrás e não consegue se decidir qual das candidatas pode protegê-la melhor.

crossi@uol.com.br


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