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Fervor nacionalista estimula ações do Irã País justifica exercícios militares no estreito de Hormuz como batalha de nação piedosa contra arrogância ocidental Programa nuclear é pivô de divergências com outros países e a razão de sanções que Teerã julga injustas
DE TEERÃ Mais do que simples alerta aos inimigos, os recentes exercícios militares iranianos no golfo Pérsico expõem o sentimento que move o governo do Irã: o fervor ultranacionalista e religioso. Os mísseis testados no estreito de Hormuz na semana passada eram todos de fabricação nacional e levavam nomes como "Qader" (o capaz) e "Noor" (luz), que remetem a trechos do Corão em que fiéis derrotam infiéis. O líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, e várias autoridades chamaram as manobras navais e a resistência às sanções econômicas de vitória divina contra a "arrogância". Dos alertas bélicos à política externa, da economia à cultura, o regime norteia suas ações pela crença de que o Irã é uma grande nação piedosa injustiçada por não se curvar ao Ocidente -posição voltada tanto ao exterior quanto à população do país, na busca por apoio interno. Para os simpatizantes do regime, Teerã deve manter seu modelo de desenvolvimento guiado pelo islã xiita. Para os críticos, o governo dos aiatolás alimenta uma onda de paranoia e mania de grandeza não compartilhada pela maioria dos iranianos. PROGRAMA NUCLEAR Segundo analistas e diplomatas, o tema que mais afeta Teerã é o programa nuclear, pivô de uma escalada na tensão com o Ocidente passível de gerar uma guerra de proporções catastróficas. Teerã alega cumprir a regra pela qual países signatários do Tratado de Não Proliferação, como o Irã, podem enriquecer urânio para fins pacíficos, desde que se submetam ao controle da agência nuclear da ONU, a AIEA. O Irã insiste que dezenas de visitas de inspetores e câmeras de monitoramento constante em suas centrais atômicas nunca provaram a existência de um objetivo militar secreto, que EUA e aliados o acusam de possuir. Para Teerã, as sanções são injustas e deveriam ser aplicadas a Israel, que tem a bomba atômica e rejeita acordos de não proliferação. O governo iraniano afirma que o último relatório da AIEA reforçando suspeitas contra Teerã é fruto de pressão dos EUA. "O Irã avalia que a lei internacional é incapaz de proteger seus interesses em face do domínio que as potências ocidentais exercem sobre organismos internacionais", escreveu o analista iraniano-americano Reza Sanati. "Se o que Teerã vê como barreira injusta impedindo seu acesso à economia global atingir um certo nível, é possível que bloqueie o acesso a Hormuz [estreito pelo qual escoa 1/6 da produção mundial de petróleo], facilitador crucial dessa economia." A desconfiança com o mundo externo remonta às invasões da Pérsia antiga pelos vizinhos, árabes sobretudo. Em 1953, um golpe fomentado pelo Ocidente derrubou o premiê Mohammad Mossadegh. A queda do líder nacionalista deu lugar à volta da monarquia secular pró-Ocidente, que só terminou com a Revolução Islâmica de 1979. Desde então, as relações entre Irã e Ocidente só pioram. O Irã se sente um "oprimido", disse à Folha o intelectual iraniano-americano Hooman Majd. "O país quer ser independente e poderoso. E busca ser amado, ou ao menos admirado, e certamente temido pelos que ele vê como inimigos constantes." Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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