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Fervor nacionalista estimula ações do Irã

País justifica exercícios militares no estreito de Hormuz como batalha de nação piedosa contra arrogância ocidental

Programa nuclear é pivô de divergências com outros países e a razão de sanções que Teerã julga injustas

Maryam Rahmanian - 20.fev.2010/Folhapress
Em Teerã, mulher passa em frente a painel de viés nacionalista; exaltações à grandeza do país fazem parte do mobiliário urbano na capital iraniana
Em Teerã, mulher passa em frente a painel de viés nacionalista; exaltações à grandeza do país fazem parte do mobiliário urbano na capital iraniana

SAMY ADGHIRNI
DE TEERÃ

Mais do que simples alerta aos inimigos, os recentes exercícios militares iranianos no golfo Pérsico expõem o sentimento que move o governo do Irã: o fervor ultranacionalista e religioso.

Os mísseis testados no estreito de Hormuz na semana passada eram todos de fabricação nacional e levavam nomes como "Qader" (o capaz) e "Noor" (luz), que remetem a trechos do Corão em que fiéis derrotam infiéis.

O líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, e várias autoridades chamaram as manobras navais e a resistência às sanções econômicas de vitória divina contra a "arrogância".

Dos alertas bélicos à política externa, da economia à cultura, o regime norteia suas ações pela crença de que o Irã é uma grande nação piedosa injustiçada por não se curvar ao Ocidente -posição voltada tanto ao exterior quanto à população do país, na busca por apoio interno.

Para os simpatizantes do regime, Teerã deve manter seu modelo de desenvolvimento guiado pelo islã xiita.

Para os críticos, o governo dos aiatolás alimenta uma onda de paranoia e mania de grandeza não compartilhada pela maioria dos iranianos.

PROGRAMA NUCLEAR

Segundo analistas e diplomatas, o tema que mais afeta Teerã é o programa nuclear, pivô de uma escalada na tensão com o Ocidente passível de gerar uma guerra de proporções catastróficas.

Teerã alega cumprir a regra pela qual países signatários do Tratado de Não Proliferação, como o Irã, podem enriquecer urânio para fins pacíficos, desde que se submetam ao controle da agência nuclear da ONU, a AIEA.

O Irã insiste que dezenas de visitas de inspetores e câmeras de monitoramento constante em suas centrais atômicas nunca provaram a existência de um objetivo militar secreto, que EUA e aliados o acusam de possuir.

Para Teerã, as sanções são injustas e deveriam ser aplicadas a Israel, que tem a bomba atômica e rejeita acordos de não proliferação. O governo iraniano afirma que o último relatório da AIEA reforçando suspeitas contra Teerã é fruto de pressão dos EUA.

"O Irã avalia que a lei internacional é incapaz de proteger seus interesses em face do domínio que as potências ocidentais exercem sobre organismos internacionais", escreveu o analista iraniano-americano Reza Sanati.

"Se o que Teerã vê como barreira injusta impedindo seu acesso à economia global atingir um certo nível, é possível que bloqueie o acesso a Hormuz [estreito pelo qual escoa 1/6 da produção mundial de petróleo], facilitador crucial dessa economia."

A desconfiança com o mundo externo remonta às invasões da Pérsia antiga pelos vizinhos, árabes sobretudo. Em 1953, um golpe fomentado pelo Ocidente derrubou o premiê Mohammad Mossadegh.

A queda do líder nacionalista deu lugar à volta da monarquia secular pró-Ocidente, que só terminou com a Revolução Islâmica de 1979. Desde então, as relações entre Irã e Ocidente só pioram.

O Irã se sente um "oprimido", disse à Folha o intelectual iraniano-americano Hooman Majd. "O país quer ser independente e poderoso. E busca ser amado, ou ao menos admirado, e certamente temido pelos que ele vê como inimigos constantes."

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