Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Entrevista - Mani Mostofi

Presidente do Irã não deteve abusos a direitos humanos

ATIVISTA IRANIANO EXALTA IMPORTÂNCIA DA INFLUÊNCIA BRASILEIRA SOBRE TEERÃ PARA CONTER AS VIOLAÇÕES A DIREITOS NO PAÍS

CAROLINA LINHARES FÁBIO ZANINI DE SÃO PAULO

Após um ano de governo no Irã, Hasan Rowhani, presidente que se apresentou como mais moderado que o antecessor, Mahmoud Ahmadinejad, não deteve as violações de direitos humanos no país, segundo relata o ativista Mani Mostofi, de nacionalidade americana e iraniana.

Por isso, Mostofi, diretor de uma coalizão de 12 entidades, a Impact Iran, acredita que a próxima rodada da Revisão Periódica Universal (UPR, em inglês) no Conselho de Direitos Humanos da ONU, ainda este mês, é uma oportunidade para exigir mudanças.

A UPR é uma sessão que ocorre a cada quatro anos, na qual um país se submete a recomendações de direitos humanos feitas por outros membros da ONU.

Em 2010, o Irã recebeu 212 recomendações de 51 países, e aceitou 126 delas. O Brasil fez quatro pedidos, três foram aceitos, mas não implementados, segundo Mostofi.

No Brasil para pressionar o governo a cobrar do Irã um compromisso na UPR, Mostofi diz à Folha que, para Teerã, é importante manter a boa relação com Brasília.

-

Folha - Hasan Rowhani foi eleito com uma promessa de abertura e de aproximação com países ocidentais. A situação do país melhorou?
Mani Mostofi - Rowhani foi eleito há um ano, e a situação é basicamente a mesma. Isso se dá por dois motivos: mesmo tendo vontade política, às vezes ele não tem o poder de implementar mudanças; e direitos humanos não são sua prioridade. Ele coloca questões geopolíticas e econômicas à frente.
Infelizmente, nenhum setor do governo iraniano quer mudanças profundas no sistema. Mas Rowhani, que representa uma ala mais liberal, prometeu pequenas reformas, como permitir acesso ao Facebook e ao Twitter, o que não aconteceu.
Contudo, o presidente conseguiu algumas melhorias. Por exemplo, reabriu a House of Cinema, uma importante aliança de profissionais de cinema fechada em 2012.

Quais aspectos de direitos humanos pioraram desde 2013?
As execuções são um exemplo. Até metade deste ano, foram cerca de 400.
Houve mais prisões de jornalistas. Isso ocorreu porque, como Rowhani prometeu um ambiente mais livre, muitos voltaram ao Irã e não se autocensuraram tanto.
Em relação ao direito da mulher, também houve piora. O Irã era um exemplo de políticas de planejamento familiar no mundo muçulmano, mas os programas de saúde foram revertidos.
O casamento é incentivado. Homens casados têm prioridade para emprego, seguidos de mulheres casadas e então de solteiros. Milhares de mulheres se casam antes dos 15 e podem se casar antes dos nove com autorização de um juiz.

Como o Brasil pode interceder pelos direitos no Irã?
O Brasil é importante porque foi um dos votos mais influentes para a aprovação no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em 2011, da principal medida que a comunidade internacional tomou pelos direitos no Irã, que foi a criação de um relator responsável por monitorar a situação no país.
Para o governo e para o povo iraniano, é importante ter a atenção de um país que provavelmente teve os mesmos problemas e está lidando com os direitos humanos.

Na última UPR, o Brasil recomendou liberdade de expressão, a proteção dos direitos da mulher e a extensão dos direitos a minorias religiosas. O que exatamente vocês querem do Brasil nesta UPR?
As recomendações feitas pelo Brasil não foram implementadas. Dezenas de jornalistas e ativistas seguem presos. Sobre as minorias, é uma recomendação que dificilmente teria sido aceita se feita por outro país.
As mulheres não podem ser juízas, não podem ter empregos públicos, não podem cursar engenharia ou matemática. Tivemos na Liga Mundial de vôlei uma partida entre Brasil e Irã, em Teerã, neste ano, e as mulheres foram impedidas de assistir ao jogo no estádio. Imagina a Copa do Mundo aqui e as mulheres não poderem entrar para torcer pelo Neymar? Queremos que o Brasil não ignore o fato de que houve promessas e que elas não foram feitas.

Como os ativistas veem a aproximação entre o Irã e o Ocidente através das negociações nucleares?
A maioria apoia as negociações com os ocidentais e quer ver o problema resolvido. Mas há o medo de que a comunidade internacional ignore tudo sobre o Irã depois de um acordo. Ter o Irã como parte da comunidade internacional é desejável, mas o engajamento deve vir com princípios --e a UPR é uma boa plataforma para defini-los. A discussão nuclear não exclui uma discussão igualmente importante como a dos direitos humanos.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página