Análise
País mostra ao mundo árabe como zelar pela democracia
Diferentemente dos países que decaíram ao caos ou retornaram à ditadura após a Primavera Árabe, a Tunísia parece resistir à tempestade.
O país adotou uma Constituição democrática que conquistou a aprovação de 93% de seus partidos políticos, garantindo os direitos das mulheres e a liberdade de crença, consciência e religião.
Além disso, criou uma comissão independente encarregada de organizar e fiscalizar as eleições.
Porém, a Tunísia ainda não escapou de vez da crise.
A Líbia vive uma anarquia, com a proliferação de grupos armados e a desintegração do Estado. O Mali está sob domínio do terrorismo. Um bloco no golfo Pérsico está determinado a aniquilar o que resta da Primavera Árabe, com o poder dos petrodólares.
Ainda que a Tunísia tenha a sorte de ser geograficamente distante do centro contrarrevolucionário, não está imune aos seus efeitos.
O mais forte ativo da Tunísia pode ser sua sociedade. Sem divisões sectárias, étnicas, religiosas ou tribais, as diferenças políticas e ideológicas não se transformam em divisões sociais, como acontece no Iraque e na Síria.
A população do país é em larga medida urbanizada, tem nível de educação relativamente alto, com uma classe média ampla e uma sociedade civil vibrante.
Enquanto a Irmandade Muçulmana, do Egito, adotou uma estratégia de exclusão depois de conquistar a Presidência, o Nahda tunisiano buscou formar coalizões com outros partidos laicos.
Isso protegeu a Tunísia contra a intensa polarização ideológica que maculou a vida política egípcia.
Quando a Tunísia entrou em crise depois do golpe militar no Egito --que coincidiu com o assassinato de um membro da oposição tunisiana--, o Nahda transferiu o poder a um governo provisório, na preparação para a eleição.
Essa consciência quanto à complexidade da transição e os perigos apresentados pela região protegeu a nação.
Os acontecimentos na Tunísia são significativos não só para sua população, de 11 milhões, mas para toda a região.
Da mesma forma que o país mostrou aos árabes como escapar da ditadura, três anos atrás, hoje demonstra que se pode construir uma democracia sobre as ruínas da velha ordem, por mais árdua que seja a estrada.