Vaticano terá novo comitê para analisar abuso sexual
Meta é acelerar processos nos casos em que religiosos acusados recorrem
Papa ainda não nomeou integrantes; jurisdição de comitê não incluirá bispos, cujos recursos serão analisados à parte
O papa Francisco decretou nesta terça-feira (11) o estabelecimento de uma comissão para acelerar a análise dos recursos apresentados pelos padres condenados em suas dioceses por delitos graves, incluindo crimes de pedofilia, anunciou a Santa Sé.
O comitê, que será composto por sete cardeais e bispos, trabalhará na Congregação para a Doutrina da Fé, para onde são enviados todos os recursos de apelação de sacerdotes e outros religiosos contrários à sua condenação pelos tribunais diocesanos.
"As muitas apelações causaram um acúmulo de trabalho", explicou o padre Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé, sem especificar quantos registros são estudados atualmente.
Em maio deste ano, o Vaticano anunciou que os tribunais eclesiásticos haviam imposto sanções a pelo menos 3.420 padres e religiosos na última década.
A Santa Sé afirmou ainda que, de 2004 a 2013, excomungou cerca de 850 padres acusados de abuso sexual.
A ideia é que a nova comissão ajude a esclarecer mais rapidamente os casos.
O papa ainda não nomeou os sete membros do comitê, que será responsável por julgar crimes contra a fé, os sacramentos e a moral.
Estes últimos, segundo o porta-voz Lombardi, abrangem essencialmente casos de abuso sexual praticados contra menores.
A jurisdição da comissão incluirá padres, mas não bispos nem "casos especiais" determinados pelo pontífice, cujos recursos continuarão a ser examinados por todos os membros da congregação.
ACOBERTAMENTO
O papa Francisco prega a tolerância zero contra a pedofilia, um problema que pode ter afetado dezenas de milhares de vidas e que desacreditou a Igreja Católica.
A maioria dos casos remonta aos anos 60, 70 e 80, e o escândalo foi amplificado pela tolerância da parte de uma hierarquia que pretendia preservar a reputação da instituição --segundo críticos da igreja, criminosos se beneficiaram dessa atitude.
Vítimas de estupro ou abuso sexual por parte de religiosos defendem que Francisco puna também esses membros da hierarquia que contribuíram para acobertar crimes.