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2 anos depois do (quase) fim - HAITI

Desafios políticos emperram reconstrução pós-terremoto

BERNICE ROBERTSON
ESPECIAL PARA A FOLHA

Após sobreviver ao terremoto que devastou seu país, muitos haitianos viam 2011 como um ano de esperança e recuperação. Mas as esperanças terminaram destruídas por um cenário político de hostilidade e instituições deficientes.

Quando o presidente Michel Martelly assumiu, em maio, após uma eleição complicada que ocupou as atenções do país no primeiro ano de recuperação pós-terremoto, os haitianos celebraram, com razão, a virada de uma página em sua história. Sua posse foi a primeira vez que um presidente haitiano transferiu o poder a um oposicionista eleito, e suas promessas de crescimento econômico rápido e reformas de segurança pareciam atender às necessidades do país.

Mas 2011 foi um ano de incerteza e frustração, no qual os haitianos tiveram de enfrentar instituições demolidas e um ritmo anêmico de progresso político. O governo praticamente se paralisou nos cinco meses de impasse que transcorreram até a seleção de um premiê.

Martelly conseguiu indicar um juiz para o supremo tribunal, mas a hostilidade entre seu governo e os parlamentares bloqueou a constituição do Conselho Supremo do Poder Judiciário, que supervisionará melhoras muito necessárias na Justiça.

Se os líderes haitianos continuarem a dividir as benesses do poder entre seus aliados, 2012 trará novos problemas. Uma coabitação difícil entre as instituições locais e centrais, bem como a mão pesada com que Martelly supostamente trata seus oponentes, bloquearão a reconstrução do Estado. Uma reconstrução viável não será possível enquanto ele não mudar seu jogo político.

Um acordo prévio em questões prioritárias sinalizaria que o presidente está disposto a governar tendo em mente os interesses de todo o país. Uma discussão aberta sobre o orçamento promoverá maior transparência, permitirá uma melhor definição de prioridades e garantirá recursos adequados.

O destino da Comissão Interina de Reconstrução do Haiti também precisa ser resolvido. Criar uma nova entidade só retardaria o progresso. O governo deve buscar aprovação parlamentar à sua renovação e elevar a participação haitiana nela, apontando ministros como representantes do Executivo e tornando-se assim parte da estrutura.

Apenas democracia efetiva em todos os níveis de governo é capaz de fomentar a reconstrução duradoura e a segurança que os haitianos merecem.

2012 será um ano decisivo: empregos, saúde, educação, habitação e segurança estarão em jogo enquanto o presidente Martelly luta para derrotar o unilateralismo político.

BERNICE ROBERTSON é analista sênior do International Crisis Group para o Haiti
Tradução de PAULO MIGLIACCI

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