Na pior em Pyongyang
Histeria da Coreia do Norte com o ebola força embaixador do Brasil a cumprir 21 dias de quarentena em casa após voltar de viagem de Pequim
Após passar alguns dias em Pequim, o embaixador do Brasil em Pyongyang, Roberto Colin, voltou à capital da Coreia do Norte no sábado (29) sabendo que teria de ficar três semanas confinado na representação oficial.
Por causa da epidemia do ebola, o governo norte-coreano fechou suas fronteiras a turistas e impôs uma quarentena de 21 dias (tempo máximo de incubação do vírus) a todos que cheguem do exterior. Além disso, os poucos norte-coreanos com permissão para deixar o país tiveram o privilégio suspenso.
Embora esteja a mais de 13 mil quilômetros dos países africanos que são o epicentro do surto, a Coreia do Norte adotou as medidas mais draconianas do mundo contra o ebola. O pânico foi reforçado pela retórica antiamericana.
Em um artigo publicado pela agência de notícias oficial (KCNA, na sigla em inglês), Hong Sung-wang, vice-presidente do órgão de vigilância sanitária, afirma que a propagação do vírus faz parte de uma conspiração dos EUA, "líder de abusos dos direitos humanos no mundo".
Para justificar a acusação, Hong cita "um assessor do ex-presidente americano Ronald Reagan", que teria afirmado que os EUA desenvolveram um vírus precursor do ebola em laboratórios da África com o objetivo de lançar "uma guerra biológica".
IDEIAS CONTROVERTIDAS
Segundo o jornal "Washington Post", o assessor, identificado no artigo apenas como "Robert", é Paul Craig Roberts, um economista de ideias controvertidas que trabalhou no governo Reagan.
Em outubro, Roberts publicou o artigo "O governo dos EUA é o maior criminoso de nossa era?", em que especula sobre a possibilidade de que o vírus do ebola tenha escapado de um laboratório americano em Serra Leoa. A especulação se baseia em teorias divulgadas na internet.
Duas semanas depois de a Coreia do Norte ter sido condenada no Conselho de Direitos Humanos da ONU, o artigo de Hong aproveita para destacar os "abusos" cometidos pelos EUA.
Ele afirma que o governo americano desenvolveu uma vacina contra o ebola, "mas impediu que ela fosse conhecida por interesse próprio". Para completar, afirma que a Aids também foi criada pelos americanos e lembra que os EUA "têm o maior arsenal nuclear do mundo".
Apesar do incômodo de ter de ficar em quarentena, o embaixador brasileiro pelo menos não terá de fazer uma parada forçada do trabalho, já que a embaixada e a residência oficial em Pyongyang ficam no mesmo prédio.
Diplomatas de outros países também estão tendo de cumprir quarentena.
Em alguns casos, a medida poderá causar danos imediatos ao país, pois interromperá programas importantes de assistência humanitária realizados por organizações internacionais presentes na Coreia do Norte.