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Análise

Caso francês e grego apenas antecipa tumulto que deveria ocorrer até março

VINICIUS TORRES FREIRE
COLUNISTA DA FOLHA

A França não é mais nota dez no serviço de proteção ao crédito. Não é uma tragédia.

O importante agora é saber se a Grécia vai deixar de pagar juros no seu enorme cheque especial estourado.

Isto é, saber se o governo grego vai conseguir reduzir o pagamento de juros e principal de sua dívida com bancos de modo a dar um "calote amigo" de mais de 50%. Ontem, a conversa azedou e parou. Se a Grécia quebrar de modo caótico, metade da eurozona vai junto.

O problema potencial mais sério da degradação do crédito francês é seu impacto no fundo europeu de socorro a países quebrados (European Financial Stabilization Facility, EFSF). Esse fundo toma dinheiro na praça e o reempresta a Grécia, Portugal e Irlanda, ora sem crédito.

Depois da Alemanha, a França é a maior fiadora do EFSF. Se o crédito do fiador baixa, em tese o custo de tomar empréstimos para o EFSF cresce. Em tese. A ver.

A França talvez pague mais juros para refinanciar sua dívida. Ontem, pagava 3,08% anuais para títulos de 10 anos, 1,31 ponto percentual a mais que a Alemanha, o "risco zero" da União Europeia. Não é bom, claro, mas "c'est pas grave", nada muito sério.

Mas o conjunto da obra de ontem pinga mais vinagre no caldo entornado da Europa. E isso em dias de calmaria.

Em dezembro, o Banco Central Europeu emprestou quase meio trilhão de euros para bancos da eurozona, vários com asfixia de crédito e outros quase quebrados, com a esperança ainda de que parte do dinheiro fosse reemprestada para governos em dificuldades, como a Itália.

O BCE se nega a comprar, ele mesmo, ainda mais papéis de governo problemático (faz compras pontuais, para aliviar a taxa de juros num dia ou noutro). Mas o BCE aceita tais títulos (e coisa ainda pior) como garantia para seus empréstimos à banca.

Enfim, o dinheiro azeitou o sistema financeiro e, assim, baixou a desconfiança e a paralisia dos negócios na praça financeira europeia.

Isto posto, esperava-se que o tumulto voltasse apenas em fevereiro, quando esquentassem as discussões do calote grego, do "pacto fiscal" e do dinheiro novo do EFSF. Porém, era certo que a baderna europeia duraria pelo menos até metade do ano.

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