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Melhor amigo de Deus
Para consolar criança, papa diz que cães têm lugar no céu e provoca debate sobre se animais têm alma
O papa Francisco já deu esperança a gays, casais não casados e defensores do Big Bang. Agora, ganhou o carinho dos donos de cachorros, dos defensores dos direitos dos animais e dos veganos.
Ao tentar consolar um garotinho triste pela morte de seu cachorro, Francisco disse em recente aparição pública na Praça de São Pedro que "o paraíso está aberto a todas as criaturas do Senhor".
Embora não esteja claro se as declarações do papa ajudaram a confortar o menino, elas foram bem recebidas por aqueles que repudiam a teologia católica conservadora segundo a qual animais não podem ir para o céu porque não têm alma.
Charles Camosy, professor de ética cristã na Universidade Fordham, disse que é difícil saber com precisão o que Francisco quis dizer, porque ele falou "em linguagem pastoral, não de forma a ser dissecada por acadêmicos".
POLÊMICAS PAPAIS
Em seu mandato relativamente curto como líder de mais de 1 bilhão de católicos romanos do planeta, depois de substituir Bento 16, Francisco, 77, vem causando repetidos incômodos aos conservadores da Igreja Católica.
Ele sugeriu posições mais lenientes que as de seu predecessor quanto a questões como a homossexualidade, os filhos nascidos fora do casamento, casais que coabitam sem casar e a teoria da evolução.
Assim, não foi surpresa que Francisco, cujo nome pontifical é uma homenagem a São Francisco de Assis, o santo padroeiro dos animais, viesse a sugerir a uma criança entristecida que seu bichinho de estimação teria lugar no além.
Mencionando passagens bíblicas que não só afirmam que os animais vão para o céu, mas se dão bem com os demais animais ao lá chegar, Francisco foi citado pela mídia italiana como tendo declarado que "um dia veremos nossos animais de novo na eternidade de Cristo. O Paraíso está aberto a todas as criaturas de Deus".
Teólogos acautelaram que Francisco falou casualmente, e não fez uma afirmação de doutrina.
QUESTÃO ESPINHOSA
A questão de se animais têm ou não lugar no céu foi tema de debate ao longo de boa parte da história da igreja.
O papa Pio 9º, que comandou a igreja de 1846 a 1878, sustentava a doutrina de que cachorros e outros animais não tinham consciência. Inclusive, ele até tentou impedir a fundação de uma divisão italiana da Sociedade pela Prevenção da Crueldade contra os Animais.
O papa João Paulo 2º reverteu a atitude de Pio 9º, nos anos 1990, ao proclamar que os animais têm almas e "estão tão perto de Deus quanto o homem".
O sucessor de João Paulo 2º, Bento 16, pareceu rejeitar enfaticamente essa visão em um sermão de 2008, no qual afirmou que, quando um animal morre, "isso significa o fim de sua existência na terra".
Sarah Withrow King, da Peta, organização que condena o abate de animais, disse que as declarações do papa confirmavam o retrato bíblico do paraíso como lugar pacífico e amoroso, e poderiam influenciar os hábitos alimentares, afastando os católicos do consumo da carne.
"O lema da Peta é que os animais não são nossa propriedade, e os cristãos concordam. Os animais não são nossos; pertencem a Deus."
Os recentes comentários do papa sobre todos os animais irem para o céu foram mal compreendidos", disse Dave Warner, porta-voz do Conselho Nacional dos Produtores de Carne Suína dos Estados Unidos, em e-mail. "Eles certamente não significam que abater animais e comê-los seja pecado".
Laura Hobgood-Oster, professora de religião e estudos ambientais na Universidade Southwestern, em Georgetown, Texas, e especialista na história da interação entre homens e cachorros, disse que, historicamente, "a Igreja Católica nunca foi clara sobre essa questão, pois ela implicaria em muitas outras."
Ela deu um exemplo: "Meu Deus, para onde vão os mosquitos?"