Índice geral Mundo
Mundo
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

EUA mandam embaixador a Mianmar

País asiático anistiou mais de 600 prisioneiros políticos ontem, em uma iniciativa liberalizante do governo

Agora, o regime promete dar plenas condições à oposição de participar das eleições legislativas parciais

DO RIO

Os EUA anunciaram ontem o restabelecimento pleno de relações diplomáticas com Mianmar, medida que se enquadra nas recentes declarações do governo Barack Obama de que dará prioridade diplomática e militar à Ásia.

Hillary Clinton, que em dezembro visitou o país, disse que a decisão responde a iniciativas liberalizantes do presidente Thein Sein -general reformado e ex-premiê sob a junta militar que comandou Mianmar entre 1962 e o início do ano passado.

"Houve progresso em várias frentes", afirmou, citando a libertação de mais de 600 presos políticos ontem e um acordo com a guerrilha karen, um dos grupos étnicos em conflito há décadas com o poder central.

Os EUA enviarão um embaixador para substituir o retirado em 1990, quando a junta desconheceu a vitória eleitoral da Liga Nacional pela Democracia, da líder opositora Aung Suu Kyi.

Na China, a nova política americana de "engajamento pragmático" com Mianmar é vista como parte de esforços para conter a influência regional de Pequim.

"A possibilidade de laços mais calorosos entre EUA e Mianmar é vista como uma ameaça em potencial à segurança chinesa, em particular em sua fronteira sudoeste e no acesso ao oceano Índico", assinala relatório do International Crisis Group.

CHINA

A China é o maior parceiro comercial e o maior investidor no vizinho, considerado um corredor ao Índico alternativo ao estreito de Málaca (entre Indonésia e Malásia).

Os chineses fazem portos em Mianmar e dutos de óleo e gás ligados à província de Yunnan. "A fronteira é uma zona de comércio intensa", diz o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, que foi relator de direitos humanos da ONU para Mianmar entre 2000 e 2008.

Decisão recente de Mianmar de cancelar a construção de uma hidrelétrica que exportaria 90% de sua energia para a China foi considerada um recado de que o país aproveitará o interesse dos EUA para contrabalançar sua dependência de Pequim.

Há quatro anos os EUA falam em rever sanções econômicas e diplomáticas, que, segundo Pinheiro, já não têm nenhuma eficácia.

Existem dúvidas, porém, sobre o alcance das reformas. O partido de Thein Sein, a União Solidariedade e Desenvolvimento, venceu eleições em 2010 consideradas fraudulentas, depois de um referendo em 2008 que aprovou projeto constitucional dos militares de uma "democracia disciplinada".

Agora, o regime promete dar plenas condições à oposição de participar das eleições legislativas parciais.

O site Asia Times, de Hong Kong, citou o comediante Zaganar, um dos recém-libertados: "Por que resgate nossa libertação foi assegurada?"

Pinheiro compara a transição a processos graduais de saída de ditaduras militares. "Ainda não é democracia plena, mas são passos importantes."

(CLAUDIA ANTUNES)

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.