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Iranianos sofrem com sanções ocidentais

Medidas em represália a violações de direitos e ao programa nuclear elevam dificuldades da população a níveis nunca vistos

Preço da gasolina é multiplicado por 4, e o do pão triplica; tanto o Ocidente quanto o governo são criticados

SAMY ADGHIRNI
DE TEERÃ

Sanções comerciais e financeiras afetam a vida dos iranianos há mais de 30 anos. Mas as últimas medidas contra Teerã elevam as dificuldades no dia a dia da população a nível jamais visto.

Do pessoal ao profissional, os iranianos pagam caro pela hostilidade entre Teerã e as potências ocidentais, que buscam sufocar a economia do Irã em represália ao seu programa nuclear e a violações de direitos humanos.

Desde que a ONU fechou o cerco contra bancos iranianos, em 2010, o preço do pão triplicou e a gasolina foi multiplicada por quatro. Empresas têm dificuldade para pagar fornecedores e receber investimento externo.

Sem poder modernizar sua estrutura, as petroleiras que sustentam as finanças nacionais produzem menos. A assistência da China, que ignora as sanções, não é suficiente, e o resultado é menos liquidez em moeda estrangeira e negócios desacelerados.

Com entrada de capitais em queda, o governo teve que cortar subsídios a serviços, o que levou à disparada da inflação. Analistas dizem que os US$ 40 mensais em "cash" que o regime passou a fornecer em troca a cada adulto não compensam a perda.

O desemprego está oficialmente em 14,6%, mas a taxa real é tida como bem maior.

"Agora o problema não é a repressão, mas o bolso", diz o cabeleireiro N.K, 38. "As pessoas estão tensas, e isso é visível no trânsito, onde há cada vez mais brigas."

A crise se nota também nos canteiros de obras parados.Hospitais e universidades usam equipamento ultrapassado, devido aos entraves para importar alta tecnologia.

Proibidas de renovar a velha frota e até mesmo de comprar peças de reposição, as empresas aéreas estão entre as mais perigosas do mundo.

O quadro se agravou com as novas sanções dos EUA, que pela primeira vez visam o Banco Central do Irã, receptor do dinheiro do petróleo e epicentro da economia.

A medida levará seis meses até entrar totalmente em vigor, mas já desregulou as finanças do Irã. A moeda local, o rial, desvalorizou-se 20%, gerando um rombo nas contas externas das empresas e minando o poder de compra.

Segundo analistas, o governo orquestrou a desvalorização para reduzir artificialmente o valor da dívida pública, agravada pela falta de entrada de capitais estrangeiros.

O presidente Mahmoud Ahmadinejad recentemente admitiu pela primeira vez que as sanções estão prejudicando o país. Resumindo o sentimento de muitos iranianos, o estudante H.R, 22, critica o governo pela intransigência que levou às punições.

"Até apoio o programa nuclear civil, mas o preço que pagamos pelo tom de constante confrontação não vale a pena". Mas critica também o Ocidente, que "deveria entender que as sanções só prejudicam cidadãos comuns."

O banqueiro M.A, 35, está pessimista. "Sou pago para achar maneiras de contornar as sanções, mas ficou difícil depois que pegaram o Banco Central. Está ruim para todo mundo, e isso é só o começo".

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