Cubanos fazem elogios a Raúl por aproximação com EUA
Nas ruas de Havana, popularidade de ditador e irmão de Fidel Castro dá sinais de estar em alta após anúncio de acordo com vizinho
Sentados na mureta do calçadão à beira-mar em Havana, três adolescentes fumam cigarro ao discutir sobre o futuro de Cuba após a histórica reaproximação com os EUA, anunciada em dezembro.
"Muita coisa boa virá, e isso se deve a Raúl Castro", diz o estudante Henry K., 18.
Ao seu lado, Laura L., 18, afirma que o mandatário entendeu a necessidade de mudar de rumo para "melhorar a vida das pessoas".
Os jovens ecoam um sentimento que parece amplamente compartilhado pelos cubanos em relação ao acordo entre o ditador local e o presidente Barack Obama para aumentar laços econômicos e reabrir embaixadas.
Apesar da irritação de alguns opositores com o pacto, a popularidade de Raúl está em alta, a julgar por conversas que a Folha teve com cidadãos comuns nos últimos dias, incluindo no 56º aniversário da revolução, celebrado na última quinta-feira (1º).
Na falta de imprensa livre e de pesquisas de opinião, acompanhar o cotidiano de pessoas de diferentes meios serve como termômetro do ambiente político.
No poder desde a renúncia do irmão Fidel, em 2006, Raúl parece estar consolidando o respaldo de parte da população que ele havia começado a angariar graças a graduais reformas econômicas.
"Nos últimos anos, comprei celular e casa, e vendi meu carro para comprar outro. Agora, Raúl fez o que precisava com os americanos", diz um taxista de Havana.
O protagonismo de Raúl, embalado pelo sucesso das negociações com os EUA e o consequente acordo aplaudido na maior parte do mundo, parece contrastar com o definhamento da figura de Fidel.
O ex-ditador não aparece em público há meses e ainda não se pronunciou sobre o acordo, o que alimenta especulações sobre sua saúde.
Alguns cidadãos cubanos já não hesitam em criticá-lo abertamente. "Se Fidel estivesse no poder, esse acordo não aconteceria. Ele era muito cabeça dura e ideologicamente intransigente", diz Aldo, outro taxista.
"O comunismo trouxe coisas boas, como educação, saúde gratuita e segurança. Mas, não adianta, nenhum país vai para frente sem crescimento econômico", afirma.
Nem todos, porém, enxergam distanciamento de posições entre Raúl e Fidel.
"Não foi Raúl quem fez o acordo, as circunstâncias que mudaram. Coube a Raúl tocá-lo porque hoje o presidente é ele. Mas o caminho havia sido mostrado por Fidel", diz a escritora Soleida Ríos, do Instituto Cubano do Livro.
Os detratores do regime, porém, criticam os EUA por não terem exigido mais contrapartida de abertura política. "Estrangeiros se enganam ao achar que as coisas mudarão neste regime brutal. Por mais que haja melhora econômica, todo mundo ainda sonha em sair de Cuba", diz a comerciante Amalia S., 42.