Maduro anuncia novo sistema de câmbio
Para tentar reverter crise, Venezuela afrouxa controle; mudança será em duas das três taxas operadas atualmente
Anúncio frustra quem esperava a unificação cambial; presidente diz que seria uma medida 'suicida' para o país
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nesta quarta-feira (21) o afrouxamento do controle de câmbio para tentar reverter a grave crise econômica e insatisfação social que ameaçam desestabilizar o país.
A medida é parte de um pacote que surge em meio a uma queda abrupta da popularidade do governo --ao redor de 20%-- e em ano de eleição parlamentar, para a qual a oposição é dada como favorita.
Em seu discurso anual na Assembleia Nacional, Maduro disse que o novo sistema de câmbio manterá três taxas diferentes, a exemplo do atual, mas que elas irão operar sob novas modalidades.
A primeira taxa oficial, de 6,30 bolívares por cada dólar, será mantida para atender "prioridades", como importação de produtos médicos e alimentares.
As outras duas taxas, até então chamadas de Sicad 1 e 2, serão fundidas ao redor de um patamar que Maduro não definiu. Serão usadas para boa parte das operações de comércio exterior.
Na medida mais significativa, o presidente anunciou a criação de uma taxa que "estimule o equilíbrio e a participação do setor privado".
A ação indica a possível criação de uma cotação mais livre para combater o mercado paralelo de dólares, que representa ao menos 4% dos movimentos cambiários no país, segundo o presidente. No mercado paralelo, um dólar vale mais de 160 bolívares.
O anúncio, porém, frustra a expectativa de uma unificação cambial que vinha sendo pedida por empresários e analistas. Maduro alegou que a idéia seria "suicida".
O presidente disse que a mudança foi decidida diante da degringolada dos preços petroleiros, causada pela farta oferta nos mercados internacionais. A exportação de petróleo responde por 96% da entrada de dólares no país.
O barril venezuelano fechou nesta quarta-feira em US$ 38, uma queda de 60% em relação a junho.
A queda na arrecadação de dólares, somada aos ataques do governo ao sistema produtivo privado, são tidos por analistas como principais responsáveis pelo grave desabastecimento no país.
Desde a virada do ano, a escassez de produtos básicos e alguns alimentos chegou a níveis críticos. Alguns supermercados têm prateleiras vazias. Nos locais onde há produtos, policiais armados tentam controlar enormes filas.
A fala de Maduro foi recebida com panelaços e buzinaços em alguns bairros de Caracas.
O presidente voltou a se dizer vítima de uma "guerra econômica" travada por adversários políticos. Ele divulgou gravações que mostram telefonema na qual homens identificados como militares dissidentes supostamente planejam jogar pedras em vitrines de lojas e criar confusão para gerar uma escalada de violência e desestabilizar o governo.
"Quem quiser fazer dano ao país encontrará este punho", bradou Maduro, aplaudido por deputados aliados.
Num aparente esforço para demonstrar transparência, o presidente, porém divulgou que a economia do país teve retração de 2,8% em 2014 e que a inflação supera 64%.