Oposição e economistas condenam medidas de Maduro
Pacote visa preservar poder sem custo político, diz Capriles; mudança no câmbio é superficial, avalia analista
Líderes da oposição e economistas rejeitaram o pacote de medidas anunciadas pelo presidente Nicolás Maduro para tentar conter a grave crise econômica na Venezuela.
Em discurso anual no Parlamento, Maduro anunciou na noite de quarta-feira (21) uma reformulação do sistema de câmbio cujos contornos ainda não estão claros.
Ele também disse que subsídios à gasolina serão reduzidos, mas não deu data nem novos valores. O presidente prometeu que as medidas não afetarão gastos sociais.
Um dos principais opositores, o governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles disse que o governo não está tomando as medidas necessárias para reduzir enormes filas no comércio e reabastecer prateleiras vazias em mercados e farmácias.
"Estão cambaleando, e a única coisa que querem é ficar no poder evitando custo político", disse no Twitter.
Capriles referia-se à relutância de Maduro em cortar gastos sociais (responsáveis por boa parte do rombo nos cofres públicos) a menos de um ano da eleição legislativa.
O prefeito metropolitano de Caracas, o opositor Antonio Ledezma, escreveu no Facebook que Maduro "tira sarro dos venezuelanos" ao propor uma alta do mínimo que "nem dá para o cafezinho".
O presidente disse que o salário mínimo aumentaria 15%, para chegar a 5.634 bolívares. Um litro de azeite de oliva custa 1.500 bolívares.
A deputada cassada María Corina Machado atacou Maduro por ter dito que "Deus proverá" os recursos necessários para compensar a queda no preço do petróleo, produto responsável pela entrada de nove de cada dez dólares arrecadados pelo país.
"Não sabe o que fazer e roga a Deus. Por Deus! Deus não é responsável por este horror nem pela solução [da crise]", escreveu Corina no Twitter.
Na semana passada, Maduro voltou de um giro internacional no qual tentou, em vão, convencer países petroleiros a reduzir a oferta abundante para aumentar preços.
FLUXO DE CAIXA
"O governo ainda tem fluxo de caixa pela arrecadação de outubro a dezembro, mas a crise irá piorar a partir de abril, quando começará a cobrar pelas vendas de janeiro [de preços muito baixos]", diz Jesus Cacique, da consultoria Capital Market Finance.
Para o economista Ronald Balza, da Universidade Central da Venezuela, as mudanças no câmbio anunciadas por Maduro são superficiais e não aliviam o controle do Estado sobre as divisas.
"O único ponto positivo foi o presidente ter reconhecido que é preciso aumentar o preço da gasolina", disse Balza, ao se referir ao subsídio de mais de US$ 12 bilhões por ano que o Estado gasta para manter artificialmente as baixas tarifas de combustíveis.
Encher o tanque de um carro médio na Venezuela custa 5 bolívares, o equivalente R$ 0,05 na cotação paralela.
Maduro, que atribui as mazelas a uma "guerra econômica" travada pela oposição, convocou uma marcha de apoio popular nesta sexta em Caracas. No sábado, será a vez de a oposição protestar.