'Entorno' de promotor está por trás de crime, diz secretário de Cristina
Aníbal Fernandez sugere até que denúncia contra presidente não tenha sido escrita por Nisman
Imprensa vaza conversa entre dois supostos envolvidos em acordo para acobertar culpa do Irã em ataque terrorista
Aliados da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, disseram nesta sexta (23) que pessoas "do entorno" do promotor Alberto Nisman, encontrado morto no domingo (18) dias depois de denunciar Cristina, estão por trás do suposto assassinato dele.
O secretário da presidência, Aníbal Fernandez, disse que Nisman não está morto "por casualidade". "[A morte] está ligada à mesma razão pela qual o fizeram vir [da Europa no meio das férias], a mesma pela qual o fizeram apresentar uma denúncia com essa característica".
Fernandez afirmou que trabalhou com Nisman. "Sei que ele era um homem formado e com experiência em direito, não poderia ter escrito essa bobagem [a denúncia]. Há alguém do entorno dele com outros interesses", afirmou.
Quando perguntado quem seria, ele respondeu que Nisman "servia primeiro vivo, para apresentar a denúncia, e depois seguramente servia morto" --discurso em sintonia com um texto que a presidente Cristina Kirchner publicou na quarta (21).
Fernandez não cita a quem interessaria ter Nisman morto, mas Cristina já acusou o ex-chefe da inteligência do governo, Horacio Stiusso, de ter passado a Nisman informações falsas para dar sustentação à denúncia contra Cristina. O promotor investigava a explosão de uma bomba na sede da Amia (Associação Mutual Israelita Argentina), que matou 85 pessoas em 1994. Ele acusava iranianos de terem tramado o atentado.
Argentina e Irã assinaram um entendimento em janeiro de 2013 pelo qual ficou estabelecida uma comissão binacional para apurar o caso.
Para o promotor, ocultamente os dois países fizeram acordo para que os culpados ficassem impunes em troca de uma aproximação geopolítica e comercial.
A parte secreta teria sido negociada por espiões ligados à Casa Rosada e por um representante dos interesses do Irã na Argentina, o comerciante de origem libanesa chamado Jorge Khalil.
ESCUTAS
Várias gravações de conversas telefônicas entre Khalil têm sido veiculadas pelo programa de rádio do jornalista anti-Cristina Jorge Lanata. Ele divulgou cinco conversas de Khalil com um militante próximo da Casa Rosada, Luis D'Elia. Em uma ocasião, Khalil diz que quer apresentar D'Elia a um iraniano "que circula pela Venezuela, que faz tudo lá". Ele responde: "Tenho de fazer o jogo da Casa Rosada. Tenho ordem de não ir, sou um soldado."
Em outra conversa, Khalil dá uma ordem a D'Elia: "Se algum meio de comunicação te ligar, não apareça muito. Por dez dias, no mínimo. Eu sei por que te falo isso".
D'Elia contesta que já sabia que era isso que deveria fazer porque teria recebido a mesma orientação de Oscar Parrilli, secretário da Presidência até dezembro passado. Ele saiu do posto para assumir a secretaria de inteligência do governo, quando demitiu justamente Stiusso, que teria enganado Nisman, na versão do governo.
Nesta sexta, a Justiça argentina proibiu o técnico em informática Diego Lagomarsino de deixar o país.
Lagomarsino é o dono da arma usada na morte de Nisman e trabalhou sete anos com Nisman. A promotora que cuida do caso, Viviana Fein, quer ouvi-lo.