Confrontos deixam feridos na Venezuela
Em Chacao, duas pessoas se feriram e 15 foram detidas em atos que lembraram um ano do início dos protestos
Divisão entre facções do movimento estudantil parece refletir as fraturas já vistas no campo oposicionista
Confrontos entre estudantes e policiais sacudiram algumas das principais cidades da Venezuela nesta quinta-feira (12).
Os incidentes ocorreram no dia em que o movimento estudantil local comemorava o aniversário do início dos protestos que deixaram 43 mortos em 2014.
Os tumultos foram menos violentos e reuniram muito menos gente que no ano passado, mas foram suficientes para semear medo e preocupação na população.
Em Chacao, município que forma parte de Caracas (leste), dezenas de estudantes montaram barricadas com fogo e entulho numa avenida durante a tarde. Num clima de tenso caos, atiraram pedras, garrafas e paus contra a polícia, que respondeu com disparos de gás lacrimogêneo e balas de borracha.
Houve correria, e o portão de um prédio do Judiciário foi depredado pelos jovens.
A confusão em Chacao deixou ao menos dois feridos. Segundo a imprensa local, a polícia deteve 15 pessoas, entre elas três menores.
Manifestantes disseram à Folha que não teriam montado a operação se o governo, a quem chamam de "ditadura", os tivesse deixado marchar no trajeto que haviam solicitado, no centro de Caracas, horas mais cedo.
A exemplo do ano passado, os jovens exigem a renúncia do presidente Nicolás Maduro e o fim do sistema esquerdista implantado sob a Presidência de Hugo Chávez (1999-2013).
Alguns transeuntes e moradores pareciam se solidarizar com os manifestantes.
"Protestar é um direito. Por acaso irão nos matar?", gritava uma senhora aos policiais, que fecharam estações de metrô e restringiram a circulação dos carros na área.
O governo acusou o prefeito de Chacao, o opositor Ramon Muchacho, de ter orquestrado os protestos, que continuavam até a conclusão desta edição.
Também houve violência em San Cristóbal e Barquisimeto (ambas a oeste).
O dia de protestos deixou claro, porém, que o movimento estudantil está rachado entre facções que parecem refletir as fraturas do campo oposicionista.
De um lado estão grupos favoráveis à ideia de que protestos são indispensáveis para forçar a saída do governo.
Na manhã desta quinta, a deputada cassada María Corina Machado conduziu uma marcha em Caracas que foi impedida pela polícia de chegar ao seu destino: uma igreja onde seria celebrada uma missa pelos 43 mortos de 2014.
Do outro lado estão jovens ligados ao governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles, que prega mudança pela via institucional --haverá pleito parlamentar no segundo semestre.
Longe das ruas, este grupo celebrou o aniversário dos protestos com um debate político numa universidade.