Testemunha aponta falha em apuração de morte de promotor
Garçonete acompanhou a perícia no apartamento em que corpo de Nisman foi encontrado, em Buenos Aires
Segundo ela, promotora teria mostrado cinco cápsulas de balas, o que reforçaria tese de que houve um assassinato
Uma nova testemunha do caso que apura a morte do promotor argentino Alberto Nisman apareceu nesta terça-feira (17). Natalia Fernandez, 26, é garçonete em um restaurante perto do apartamento de Buenos Aires onde Nisman foi encontrado morto, há um mês.
Em entrevista ao jornal "Clarín", ela disse que, na noite da morte, autoridades judiciais a convocaram para ser testemunha dos procedimentos de investigação que começavam a ser realizados no local. Afirma ter ficado ali durante sete horas.
Na entrevista, Natalia conta que a promotora Viviana Fein, responsável pela apuração, segurava uma bolsinha com cinco cápsulas de bala na mão, o que poderia ser um indicativo de que Nisman foi assassinado, e não se suicidou. A informação oficial é de que a arma que atingiu o promotor fez apenas um disparo naquela noite.
O promotor estava pronto para denunciar a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, por dificultar as investigações sobre a explosão de uma bomba na sede da entidade judaica Amia em 1994, que deixou 85 mortos.
Segundo a garçonete, logo após chegar, duas pessoas saíram carregando o corpo que seria de Nisman.
Passaram-se uns minutos e voltaram, dizendo que tinham se equivocado sobre o caminho e riam.
Durante o tempo que permaneceu no apartamento, Natália disse que usou o banheiro sem que ninguém se preocupasse se teria provas no local. E que lhe ofereceram café da cafeteira da casa do promotor, próxima à mesa onde estavam os papéis da denúncia de Nisman.
Natalia afirma ainda que os funcionários mexeram nos documentos do promotor.
"Eles tomavam chimarrão e pediam medialunas [croissants]. Tocavam em tudo. Havia umas 50 pessoas ali. A promotora [provavelmente Viviana Fein] perguntava: paramos por agora e continuamos amanhã?", descreveu Natalia ao "Clarín".
A jovem disse ainda que peritos com traje especial levavam o celular do promotor, mas que em seguida uma agente, sem qualquer proteção, pegou o aparelho para atender a uma chamada. "Eu mesma disse a ela 'não toque, é o telefone do cara que mataram'", contou Natalia.
RESPOSTA
Após a divulgação da reportagem do "Clarín", a promotora Viviana Fein rebateu as afirmações de Natalia, classificando-as de "fantasiosas" e de "vergonha".
Ela afirmou que havia apenas uma cápsula de bala no local e que no tambor da arma havia quatro balas.
A promotora disse que não se lembra de Natalia, mas não negou que ela estivesse no local. "Ela está mentindo, o que diz não é reprodução do que ocorreu [naquela noite]", afirmou, acrescentando que Natalia terá que responder pelo que disse.
A jovem disse que decidiu expor o que havia ocorrido naquela noite porque ficou com medo.
Depois daquele dia, ela disse que um homem a procurou e perguntou se era ela a testemunha do caso do promotor Nisman.