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Schettino, do Concordia, é filho e neto de capitães

Família da mãe do comandante é dona de embarcações há gerações

Ele já havia realizado manobra arriscada, como a de sexta, para prestar homenagem em uma outra ocasião

RODRIGO RUSSO
DE LONDRES

"Eu gosto de momentos em que alguma coisa imprevisível acontece, quando você foge um pouco do procedimento-padrão."

A frase é de Francesco Schettino, 52, durante sua entrevista -a única de que se tem notícia- ao jornal tcheco "Dnes", em 2010, quando também declarou que não gostaria de estar na pele do capitão do Titanic.

Ironicamente, cem anos depois do trágico acidente, Schettino estava no comando do luxuoso navio de cruzeiro Costa Concordia, que naufragou na sexta-feira à noite próximo à ilha de Giglio, na região da Toscana, na Itália, deixando 11 mortos e mais de 20 desaparecidos.

Ao que tudo indica, ele não observou as suas próprias declarações: "Acredito que, com a preparação certa, qualquer situação pode ser contornada e qualquer problema pode ser prevenido", disse Schetinno na entrevista.

Na noite do naufrágio do Costa Concordia, as palavras do comandante também valeram muito pouco.

O confronto entre Schetinno e o capitão De Falco, da Guarda Costeira, tornou este último um verdadeiro herói na Itália e na internet.

O comandante garantiu duas vezes que o navio passava por "pequenos problemas técnicos".

Depois, disse que o resgate das mais de 4.200 pessoas a bordo estava praticamente completo, quando na verdade a operação estava apenas começando.

Em seguida, o ápice do conflito: Schettino abandona o navio muito antes de a operação acabar, mas reitera à Guarda Costeira que está no comando. "O que você quer dizer? Você abandonou o navio?", pergunta De Falco. "Não. Claro que não abandonei o navio. Estou aqui."

ANTEPASSADOS

O comandante Schettino tem longa relação com o mar. A família da mãe, segundo o jornal britânico "The Guardian", há gerações é proprietária de embarcações.

O pai e o avô eram comandantes, o que pesou na sua escolha profissional, mesmo depois de ter começado a estudar engenharia elétrica.

Nascido no sul da Itália, em Castellamare di Stabbia, uma pequena cidade costeira perto de Nápoles, Schettino e seu irmão Salvatore optaram por trabalhar em uma atividade ligada ao mar.

De acordo com a imprensa italiana, Schettino estudou em um prestigioso instituto náutico de sua região e conta (ou contava) com a admiração da comunidade ligada a esse setor em sua cidade.

Em 2002, começou a trabalhar para a Costa Cruzeiros como oficial responsável pela segurança. Depois de ter sido imediato, foi promovido a comandante em 2006.

Hoje, sua família mora em Meta, também perto de Nápoles. É lá que Schettino cumprirá a prisão domiciliar decretada pela Justiça italiana, ao lado da mulher e da filha, de 15 anos.

SAUDAÇÃO

Embora desta vez a aproximação da costa tenha sido considerada pela Costa Cruzeiros um erro humano, do qual a empresa não tinha conhecimento, há dois episódios de saudações do Concordia ao local em que o navio está passando -a mais recente delas em Giglio- com autorização da companhia.

O "inchino" é uma tradição italiana para homenagens. Ele vale também como deferência ao local da costa por onde o navio passa perto, quando a embarcação acende suas luzes e usa a sirene diversas vezes.

Em agosto de 2011, para homenagear o ex-comandante Mario Palombo, o Concordia, com outro capitão, teve autorização da Costa e da Guarda Costeira para a manobra; em setembro de 2010, durante o dia, e não à noite, a saudação ocorreu na ilha de Procida, sob o comando de Schettino, e foi destacada no próprio blog da empresa de cruzeiros.

Um incidente conhecido com o Costa Concordia ocorreu em novembro de 2008, quando o navio sofreu uma avaria, perto de Palermo, devido ao mau tempo.

Ninguém ficou ferido naquela ocasião.

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