Mujica teme golpe da esquerda em Caracas
Para presidente uruguaio, eventual ação de militares esquerdistas seria erro gravíssimo
A poucos dias de deixar a Presidência do Uruguai, José Mujica demonstrou nesta quinta-feira (26) preocupação com a situação da Venezuela, onde teme que poderá acontecer um "golpe militar de esquerda".
"Podemos nos ver diante de um golpe de Estado de militares da esquerda, e com isso a defesa democrática vai para o inferno. Seria um erro gravíssimo se desrespeitassem a Constituição", disse em entrevista ao "El País".
Ex-guerrilheiro de esquerda tupamaro, preso por mais de dez anos pela ditadura militar uruguaia, Mujica acenou com desaprovação à prisão do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, na semana passada. "Em geral, nenhuma detenção me agrada", disse.
Mujica entregará o cargo a Tabaré Vázquez no domingo (1º). Os dois são da governista Frente Ampla, que declarou publicamente o apoio ao presidente Maduro na segunda-feira (23).
A nota do partido observa que Maduro foi eleito de acordo com as leis do país. Também rechaça as "tentativas de desestabilização e ingerência externa" nos assuntos internos da Venezuela.
A oposição uruguaia criticou o governo e a Frente Ampla pela declaração e prometeu fazer uma manifestação contra o presidente da Venezuela no domingo. Maduro é esperado para a cerimônia de posse de Tabaré.
Dilma Rousseff também confirmou presença. O boliviano Evo Morales chegou ao país e se encontrou nesta quinta (26) com Mujica.
Após o encontro, Evo afirmou que a crise na Venezuela é resultado da pressão externa dos EUA, que acusou de conspirar contra Maduro.
"O império não aceita quando surgem líderes políticos ou sindicais na América Central e na América do Sul e faz agressões permanentes, políticas, econômicas e até judiciais", afirmou.
"O que vive a Venezuela é parte disso, essa agressão permanente, e não vamos aceitar a intromissão do governo dos EUA por meio de seu secretário de Estado [referindo-se a John Kerry e às críticas que fez sobre a situação no país]."
Principal adversário de Tabaré nas eleições, Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional, afirmou que é uma "vergonha" o Uruguai e os países do Mercosul não se pronunciarem a respeito da crise política venezuelana.
"Me parece vergonhoso o silêncio do nosso país e do nosso governo", disse.
Lacalle Pou afirmou que, embora de origem legítima, o governo de Maduro "tem elementos fortes de totalitarismo".