Facção destrói tesouro histórico no Iraque
Vídeo feito em museu de Mossul mostra Estado Islâmico quebrando objetos arqueológicos, como estátuas assírias
Para os militantes da facção, patrimônio histórico representa 'ídolos de povos dos séculos anteriores'
Militantes da facção terrorista Estado Islâmico divulgaram nesta quinta (26) vídeo em que destroem artefatos históricos, apresentando a herança arqueológica de um museu de Mossul --norte do Iraque-- como "ídolos de povos dos séculos anteriores".
Os terroristas alegam que Maomé, profeta do islã, destruiu estátuas ao conquistar Meca, no século 7.
No vídeo, militantes empurram imagens dos pedestais. As cenas das relíquias se despedaçando no chão são acompanhadas por versos do Alcorão, livro sagrado do islã, e por sons de disparos. Outras antiguidades são destruídas a marteladas.
Essas estátuas assírias já existiam quando Maomé, segundo a tradição, destruiu os ídolos de Meca. Mas o EI diz que esses artefatos não eram visíveis à época e foram posteriormente escavados por "adoradores do demônio".
"O Estado Islâmico quer aniquilar tudo o que se refira a antigas civilizações, já que para eles tudo o que veio antes do islã é nulo", afirma Barah Mikail, do "think tank" europeu Fride, na Espanha.
"É uma maneira de negar a importância de qualquer contribuição à civilização feita antes do século 7. É uma catástrofe. Estão privando o mundo dos recursos necessários para entender como seus ancestrais viveram."
Segundo informações preliminares, as estátuas destruídas vinham em grande parte da cidade assíria de Nínive, perto de Mossul. Algumas datavam do século 7 a.C.
Entre outros motivos, Nínive é famosa por uma biblioteca de tabuletas cuneiformes organizada pelo rei Assurbanípal (690-627 a.C).
As regiões tomadas pelo EI na Síria e no Iraque têm rica herança histórica, que inclui artefatos dos impérios babilônico e assírio. Sítios arqueológicos estão em risco ali, já que a rígida visão da milícia condena a ideia de idolatria. Também são afetados locais relevantes para o próprio islã.
Há, além disso, relatos de que artefatos arqueológicos estão sendo vendidos no mercado negro para financiar os avanços da facção.
Nesta semana, foi divulgado ainda um saque feito à biblioteca de Mossul, com a destruição de 100 mil livros e de manuscritos, incluindo exemplares otomanos.
"Estão destruindo a herança da humanidade", diz Lionel Marti, especialista em arqueologia mesopotâmica pelo Centro Nacional de Pesquisa Científica, na França. "É impossível restaurar esses artefatos depois do dano."