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Embaixador brasileiro apoia Ahmadinejad

Representante do país em Teerã diz que frase de presidente do Irã sobre "varrer Israel do mapa" foi "mal compreendida"

No Rio, chanceler britânico defendeu sanções a Teerã como 'pressões pacíficas', sob críticas de brasileiros

Ricardo Moraes/Reuters
O chanceler britânico, William Hague (à dir.) cumprimenta o governador Sérgio Cabral, após debate no Rio de Janeiro
O chanceler britânico, William Hague (à dir.) cumprimenta o governador Sérgio Cabral, após debate no Rio de Janeiro

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

O embaixador brasileiro em Teerã, Antonio Salgado, advertiu contra a "demonização" do Irã e disse que a frase "infeliz" do presidente Mahmoud Ahmadinejad sobre "varrer Israel do mapa" -citada como evidência de intenções agressivas- foi "aparentemente mal compreendida" no Ocidente.

"Na realidade ele não queria dizer que Israel deveria desaparecer do mapa, mas sim desaparecer da história. Seria mais uma analogia com o que aconteceu com a União Soviética ou a África do Sul do apartheid", afirmou Salgado em debate no Rio com o chanceler britânico, William Hague.

O diplomata disse que, em vez de aprovar novas sanções contra o Irã -defendidas por Hague como "pressões pacíficas"-, o Ocidente deveria insistir em negociações sobre o programa nuclear. Citou a proposta "passo a passo" feita pela Rússia, que prevê um processo paulatino de concessões mútuas.

"Não estou defendendo o Irã, mas existe nos últimos anos uma demonização que tem mais a ver com a fase inicial da revolução [islâmica]. Depois houve oportunidades de normalizar relações com o Ocidente que foram perdidas", acrescentou.

Ao relativizar a declaração de Ahmadinejad -por sua vez uma citação do aiatolá Khomeini, líder da Revolução Islâmica- o diplomata retomou polêmica que vem desde que ela foi reportada pelo "New York Times" em 2006.

Especialistas como o americano Juan Cole dizem que a frase foi mal traduzida e a versão correta é metafórica, e não uma ameaça de guerra: "Esse regime de ocupação sobre Jerusalém deve desaparecer da página do tempo".

Outros, porém, argumentam que o próprio governo do Irã já usou a expressão "varrer do mapa" em páginas em inglês na internet.

No debate promovido pelo Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) no palácio do Itamaraty, Hague não recuou diante das críticas de brasileiros -que também questionaram, como o embaixador Marcos Azambuja, a viabilidade de uma solução para o caso iraniano enquanto Israel mantiver arsenal atômico.

O britânico disse que a recente invasão da embaixada de seu país em Teerã "mostra como é difícil tentar boas relações com o Irã" e que há "sinais perigosos" vindos do país, como o suposto complô para matar o embaixador saudita em Washington.

Ele se mostrou confiante em que o embargo ao petróleo iraniano será aprovado pela União Europeia na segunda-feira. A diplomatas brasileiros, informou que a única dúvida é se será implementado em dois meses, como querem Reino Unido, Alemanha e França, ou em seis, como propõem Grécia, Itália e Espanha, mais dependentes do produto.

O enviado especial brasileiro ao Oriente Médio, embaixador Cesário Melantonio, disse que o acordo feito por Brasil e Turquia com Teerã no ano passado "continua na mesa". No entanto, ele acha difícil que seja reativado em ano de eleições nos EUA, na França e no Irã (legislativas).

Essa hipótese foi sugerida por Anne-Marie Slaughter, ex-conselheira do presidente Barack Obama, e pela revista "Economist" nesta semana, entre outros.

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