Relatório aponta racismo de polícia nos EUA
Departamento de Justiça investigou comportamento de autoridades em Ferguson, onde rapaz negro foi morto em 2014
Assassinato por um policial branco, que depois acabou não indiciado, levou a uma onda de protestos
Uma cultura de discriminação racial, propagada pelas autoridades locais, levou a polícia de Ferguson, no Missouri (EUA), a uma rotina de uso desproporcional da força contra a população negra, aponta relatório do Departamento de Justiça a ser divulgado nesta quarta-feira (4).
De acordo com funcionários do Departamento, que adiantaram detalhes do documento, a população negra foi alvo de 93% das prisões feitas entre os anos de 2012 e 2014 na cidade --embora o grupo corresponda a 67% do total de moradores.
Por meio de centenas de entrevistas e após a revisão de mais de 35 mil páginas de arquivos da polícia de Ferguson, os investigadores descobriram ainda que, em 88% dos casos em que houve uso de força em abordagens, os alvos eram negros.
Motoristas negros também foram duas vezes mais revistados em batidas de trânsito, embora tivessem 26% menos chances de serem flagrados em posse de contrabando --como drogas ou armas.
A investigação sobre a conduta dos policiais de Ferguson foi aberta após a morte, em agosto de 2014, de Michael Brown, um jovem negro de 18 anos, assassinado a tiros por um guarda branco. O oficial envolvido no caso, Darren Wilson, não foi indiciado, em decisão de um júri de Saint Louis que gerou protestos em todo o país.
"Se as conclusões do relatório estiverem corretas, isso confirma a crença da família de Michael Brown, de que a morte trágica de seu filho adolescente desarmado foi parte de um padrão sistêmico de policiamento de negros em Ferguson", afirmou o advogado da família, Benjamin Crump.
POLÍCIA BRANCA
Embora dois terços da população de Ferguson seja negra, a maior parte dos oficiais do governo e da polícia são brancos.
De acordo com os investigadores federais, a discriminação racial era, em parte, alimentada por estereótipos propagados pelas próprias autoridades, cujos e-mails mostram piadas racistas.
Entre eles, está uma mensagem de 2008 que dizia que o presidente Barack Obama --eleito naquele ano-- não permaneceria por muito tempo no cargo. "Que homem negro mantém um emprego estável por quatro anos?", dizia a mensagem.
O Departamento de Justiça tenta chegar a um acordo com as autoridades de Ferguson para que práticas do Departamento de Polícia sejam revistas e alteradas. Se isso não ocorrer, a investigação pode resultar em processo judicial.
Com o relatório, deve ser divulgado o resultado de uma investigação federal sobre o caso de Brown. A expectativa é que o veredicto do júri de Missouri seja mantido, e o policial Darren Wilson, liberado sem indiciamento.