Índice geral Mundo
Mundo
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Análise

Como Gore, Romney soa falso quando quer parecer "humano"

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Mitt Romney tem problemas muito mais sérios neste fim de semana, que poderia ter sido consagrador com a terceira vitória seguida nas prévias presidenciais de seu partido, do que o lançamento de uma nova biografia sua.

Afinal, mesmo que ganhe a primária da Carolina do Sul hoje, ele já não está invicto, pois a recontagem do "caucus" de Iowa comprovou que ele ficou em segundo lugar lá, atrás de Rick Santorum, e seja qual for o resultado desta noite, não será tão espetacularmente favorável para Romney como todos previam na segunda-feira passada.

Mas Romney continuará o favorito para conquistar a candidatura da oposição contra o presidente Barack Obama em novembro, e, por isso, revelações sobre sua vida podem ser preocupantes em relação às suas chances.

Não há nada de dramático no livro "The Real Romney", dos jornalistas Michael Kranish e Scott Helman. Mas ele explica bem uma das características da "persona" pública do candidato, que faz com que muitos o comparem a Al Gore, o então vice-presidente da República derrotado em 2000 por George W. Bush.

Uma das possíveis razões para Gore não ter sido capaz de agradar a pelo menos metade dos eleitores era a aparência "robótica" que ele transmitia em seus pronunciamentos e nos debates.

Como Gore, Romney quase sempre quando quer parecer "humano" (engraçado, leve, espontâneo) soa inautêntico, forçado, falso. Como Gore, ele só demonstra ficar à vontade quando está falando sobre assuntos técnicos de sua especialidade.

As semelhanças biográficas entre Gore e Romney também são várias: os dois são filhos de políticos importantes e pessoalmente dominadores que tentaram sem sucesso disputar a Casa Branca por seus respectivos partidos (o senador por Tennessee Al Gore nos anos 1950 e o governador de Michigan George Romney na década de 1960).

Ótimos alunos, os dois estudaram em Harvard, são elitistas do ponto de vista cultural, falam de modo que parece pedante a muita gente.

A nova biografia trata desse aspecto de sua personalidade. Diz que por algum tempo o apelido de Romney era "Homem da Lata" e arrisca a teoria de que a origem de tudo foi um deslize emocional de seu pai numa entrevista à TV em 1967 que teria acabado com suas pretensões presidenciais. Depois disso, segundo sua irmã, Mitt Romney, que já era naturalmente contido e diplomático, ficou "ainda mais cauteloso e preso a seus scripts".

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA é editor da revista "Política Externa" e autor do livro "Correspondente Internacional" (editora Contexto)

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.