Berlim instala refugiados em contêineres
Medida é alvo de protestos de moradores e recebe críticas de ONGs favoráveis a alojar imigrantes em apartamentos
Ascensão de entidade anti-islã leva líderes do governo alemão a fazer do apoio a refugiados tema de seus discursos
A instalação de 400 refugiados em contêineres no bairro de Treptow-Köpenick, região leste de Berlim (Alemanha), desde dezembro de 2014 vem causando polêmica tanto entre os moradores do bairro quanto entre ONGs dedicadas aos refugiados.
A transferência dos imigrantes para o local, definida pela administração berlinense, resultou em semanas de protestos dos moradores.
As ONGs, por sua vez, têm criticado severamente os critérios adotados pela cidade para alojar os imigrantes.
"Contêineres devem ser usados para o transporte de mercadorias, e não para o alojamento de seres humanos", afirmou à Folha Georg Classen, integrante da diretoria do Conselho de Refugiados em Berlim, entidade que acompanha a questão.
O conselho diferencia entre "alojamento de urgência", oferecido em galpões, escolas ou terrenos baldios, e o que é feito nos contêineres --a permanência dos refugiados é de médio prazo, enquanto aguardam a definição jurídica do seu futuro status.
Classen explica que sua organização defende instalar os refugiados em bairros e não na periferia, afastados do contato social. "Mas, devido ao grande número de refugiados nesse caso, a integração se torna mais difícil."
Segundo o diretor da ONG, o alojamento em massa de imigrantes resulta, para eles, num rótulo como "não fazemos parte dessa sociedade".
"Köpenick ainda tem o agravante de uma cena neonazista muito forte, com um potencial imenso de convulsão social", acrescenta.
Para ele, quando os refugiados vão para apartamentos, "sem estigmatização", a integração é menos difícil.
REAÇÃO POLÍTICA
Além do neonazismo citado por Classen, a ascensão do movimento anti-islã Pegida (Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente) fez com que a chanceler Angela Merkel e o presidente Joachim Gauck tornassem os refugiados o tema principal de seu discurso no final de 2014.
Por meses, as passeatas do Pegida levaram milhares às ruas do país até que Lutz Bachmann, figura-chave do movimento, foi desmoralizado --além de tuitar uma "selfie" em que aparece com o bigode do ditador Adolf Hitler, ele teve vazada conversa no Facebook na qual se referia aos refugiados como "gado".
A fragilidade na estrutura do Pegida ficou visível, mas siglas populistas e neonazistas buscam se fortalecer angariando eleitores contrários à imigração que se dizem frustrados com outros partidos.
Apesar das pesquisas segundo as quais o percentual de muçulmanos na Alemanha (5,8% da população, nas contas do instituto Pew) não traz risco de "islamização", o discurso populista baseado no medo e no ódio persiste.
Pesquisa divulgada em janeiro pela Fundação Bertelsmann atesta que 90% dos habitantes do leste da Alemanha "não têm nenhum contato social com muçulmanos".