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Crise europeia tem grande teste em março

Países como Grécia, Portugal, Itália e Espanha precisam renegociar € 87 bilhões e buscam pagar juros menores

Recessão, novas regras de capitalização para bancos e eleições são outros desafios para a economia do bloco

Francois Mori/Associated Press
Sindicalistas protestam contra corte do Governo francês
Sindicalistas protestam contra corte do Governo francês

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO

O rebaixamento das notas de crédito de nove países europeus, na sexta-feira retrasada, não trouxe a crise prevista por alguns economistas.

Nações rebaixadas como Itália, Espanha e França conseguiram na semana passada emitir títulos a custos às vezes menores do que nos leilões mais recentes e com procura acima da esperada.

Mas o grande teste da União Europeia ainda está por vir. Março será um mês decisivo, em que os países mais afetados pela crise -Grécia, Portugal, Itália e Espanha- terão € 86,9 bilhões em dívidas vencendo.

Nos três meses mais críticos do ano (fevereiro, março e abril), esses países precisarão levantar dinheiro para cobrir € 251,4 bilhões em dívidas vencendo.

No ano de 2012, vai vencer € 1,2 trilhão em dívidas da Grécia, de Portugal, da Itália, da Espanha, da Irlanda, da Alemanha e da França, incluindo o principal e os juros.

Para pagar essas dívidas, muitos países terão de emitir títulos -mas, para nações como a Itália, que está pagando juros proibitivos de quase 7% para papéis de dez anos, será um enorme desafio.

"Se os juros que a Itália e a Espanha estão pagando não caírem abaixo de 4,5%, essas dívidas serão insustentáveis", diz Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco e sócio do Itaú BBA.

"A dívida da Itália é de 120% do PIB, não dá para o país ficar se financiando a longo prazo a 6%, 7%, não há superavit primário que dê conta. É como um doente, ele pode ter febre um, dois, três dias, mas não o ano inteiro."

FATOR GRÉCIA

Não é só a concentração de vencimentos que vai influenciar o destino da economia europeia.

A renegociação da dívida grega se aproxima de fase crítica. Os bancos e o governo grego precisam chegar a um acordo até o mês que vem, para que haja tempo de concluir a troca de dívida antes de março, quando o país terá € 19 bilhões vencendo.

Anteontem, eles se aproximavam de um acordo sobre quanto os credores perderiam ao trocar seus títulos por novos papéis, de valor inferior, prazo maior e juros menores.

A renegociação é pré-requisito para o FMI e a UE liberarem o pacote de resgate.

"Há sinais animadores, mas eu seria cuidadoso, já tivemos alarmes falsos antes", disse à Folha Nicolas Véron, pesquisador do Instituto Bruegel, em Bruxelas.

"Tudo depende da renegociação grega. Se as coisas não forem bem, haverá contaminação na Espanha e na Itália, com alta nos custos para rolar as dívidas."

Enquanto um fracasso na rolagem da dívida da Grécia seria péssimo, no caso da Itália seria uma catástrofe. Trata-se do terceiro maior devedor em títulos do mundo, com dívida de € 1,95 trilhão.

Mesmo se der certo, a renegociação não resolverá o problema. Os credores privados têm aceitado reduzir em 50% o valor da dívida, o que manteria o endividamento grego acima de 120% do PIB.

O Banco Central Europeu deu um alívio ao oferecer € 489 bilhões em linhas de três anos e custo baixíssimo para os bancos. Mas, por enquanto, as instituições financeiras só estão usando os recursos para comprar títulos soberanos mais curtos.

Complicando as coisas, em junho acaba o prazo para os bancos europeus adotarem as novas regras de capitalização ditadas pela UE, lembra Jayme Alves, economista sênior da Febraban. Para isso, eles estão reduzindo a concessão de empréstimos, além de venderem ativos.

A magnitude da recessão na zona do euro será outro fator determinante. Mesmo que os países adotem o "pacto fiscal" idealizado pela Alemanha, será impossível reduzir o endividamento se o crescimento continuar anêmico ou houver retração.

Duas eleições terão influência também: as francesas e as gregas. O presidente Nicolas Sarkozy está atrás do socialista François Hollande nas pesquisas. Hollande seria muito menos aberto a reformas no país, diz a professora Elena Lazarou, da Fundação Getulio Vargas.

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