Índice geral Mundo
Mundo
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Tabatinga é como limbo para haitianos

Exigência de visto para imigrantes que chegaram depois do dia 13 impede que eles deixem a cidade do Amazonas

Governo brasileiro não regulariza situação e tampouco providencia voo para levá-los
de volta a seu país

LUISA BELCHIOR
ENVIADA ESPECIAL A TABATINGA (AM)

A tentativa do governo de organizar a chegada de haitianos no Brasil com a exigência de visto criou um gargalo em Tabatinga (AM). A cidade se tornou uma espécie de limbo para os mais de 1.300 haitianos que, segundo a PF (Polícia Federal), estão lá.

Os que chegaram ali depois do dia 13 de janeiro -quando entrou em vigor resolução do governo brasileiro exigindo visto para haitianos entrarem no país- não podem deixar Tabatinga. Isso porque em todas as saídas (aeroporto, estrada e porto) a polícia exige o protocolo para a concessão do visto, que só é dado aos que chegaram antes dessa data.

Tampouco estão sendo deportados. Até agora, apenas dez receberam notificação, e, por enquanto, o governo desconsidera arcar com o custo de fretar um voo para devolvê-los ao Haiti.

Ao mesmo tempo, porém, os haitianos ainda conseguem furar a fronteira em Tabatinga. Ao contrário de Brasileia, no Acre, cuja única passagem é uma ponte, em Tabatinga há mais de cem acessos pelos rios.

"A fiscalização existe, mas há muitos furos. Eu tenho um rio que divide três países e 10 km de margem. Os barcos podem atracar em qualquer lugar", disse à Folha o delegado da PF Gustavo Henrique.

Além de fiscalizar os barcos que chegam a Tabatinga pelo porto da cidade, os policiais federais também monitoram, em lanchas, outros acessos pelo rio.

Na sexta-feira, cinco haitianos que conseguiram entrar no país reclamavam de não terem sido informados da nova exigência.

"Estamos desesperados porque investimos tudo que tínhamos nesta viagem. Não tínhamos ideia de que chegaríamos aqui sem poder receber documentação", disse Wanoly Dupervil.

Diariamente, centenas deles vão até a PF tentar uma maneira de receber documentação. "Não somos ilegais. Isso é um projeto migratório pelo qual pagamos caro e do qual dependem nossas famílias no Haiti. Gostaria que o Brasil reconhecesse isso", disse Louis Martient, 27.

A PF, no entanto, só dá o protocolo para quem entrou no país antes do dia 13 de janeiro, e mesmo assim precisou organizar um mutirão de atendimento diário. A meta é zerar a lista até sexta-feira.

Aos que chegaram depois, os policiais recomendam procurar o Ministério Público.

Enquanto isso, os haitianos presos à Tabatinga por falta de visto ou de dinheiro vagam à espera de alguma definição do governo ou proposta de trabalho. E, depois de quase dois anos ali, deram nova configuração a ela.

"Estranhamos no início porque aqui não tinha negros, só caboclos, índios e colombianos", disse Ribamar Leite, 24, funcionária de um restaurante

Moradores ouvidos pela Folha se mostraram receptivos e solidários aos haitianos, mas alguns disseram ser contra sua presença ali.

Entre os comerciantes, todos concordaram que a presença de haitianos pode dinamiar os negócios.

"Eu acho bom porque passei a ter mais clientes. Eles pechincham, mas compram", disse Lucia Pereira, dona de uma loja de calçados.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.