Após mortes nos EUA, líderes pedem fim de símbolo racista
Bandeira escravagista é ostentada na sede do Legislativo na Carolina do Sul
Acusado de chacina em igreja sulista aparece em foto com estandarte confederado; racismo está no DNA, diz Obama
Autoridades da Carolina do Sul e ativistas pediram nesta segunda (22) que a bandeira de guerra da Confederação sulista (1861-65), símbolo do período escravagista nos EUA usado por grupos racistas até hoje, seja retirada do jardim do Legislativo estadual.
O pedido ocorre quatro dias depois do assassinato de nove fiéis negros em ataque a uma igreja em Charleston, segunda maior cidade do Estado. No sábado (20), foram divulgadas fotos do acusado pela chacina, Dylann Roof, 21, armado e com uma bandeira confederada na mão.
Cercada por líderes políticos e religiosos, a governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley --republicana ligada ao movimento ultraconservador Tea Party--, defendeu em entrevista coletiva a retirada da bandeira da Confederação.
Segundo a governadora, embora para muitos no Estado a bandeira seja um símbolo histórico, "para muitos outros ela é um símbolo profundamente ofensivo de um passado brutalmente racista".
Haley se pronunciou pouco após o presidente dos EUA, Barack Obama, anunciar que viajará a Charleston nesta sexta (26). Obama fará o elogio fúnebre do pastor Clementa Pinckney, senador estadual e um dos mortos na chacina.
A governadora da Carolina do Sul disse ainda que, caso os deputados não resolvam o problema da bandeira, ela poderá convocar sessão especial do Legislativo do Estado.
Na entrevista, Haley era ladeada pelos dois senadores da Carolina do Sul, os republicanos Lindsey Graham e Tim Scott --Scott foi o primeiro negro no Estado a se eleger para o Senado federal.
Outros republicanos, como o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, também manifestaram nesta segunda apoio à retirada da bandeira. Desde o dia do massacre, a maioria dos pré-candidatos de oposição à Casa Branca em 2016 vinha evitando o tema.
Democratas como o prefeito de Charleston, Joseph P. Riley, e a ex-secretária de Estado Hillary Clinton já haviam defendido a medida --Hillary, hoje também pré-candidata à Presidência, tratara do tema em entrevista em 2007.
A bandeira foi retirada de dentro do Legislativo da Carolina do Sul há 15 anos, após um protesto que reuniu 46 mil pessoas. Depois disso, ela foi levada ao jardim do edifício, onde faz parte de monumento em homenagem às vítimas sulistas na Guerra Civil.
A rede Walmart anunciou que não irá mais vender a bandeira em suas lojas.
'RACISMO NO DNA'
Em entrevista ao comediante Marc Maron, Obama disse que o "legado de escravidão e discriminação" existe nas instituições e ainda é "parte do DNA que é passado adiante" pelas pessoas.
Apesar disso, ressaltou os progressos nas relações raciais nos EUA ao longo das décadas, citando a sua própria experiência como filho de um africano.
"Sempre falo --aos jovens principalmente-- que não digam que nada mudou quando se trata de raça nos EUA, a menos que tenham vivido como negros nos anos 50, 60 ou 70. É inegável que as relações raciais melhoraram durante minha vida e a sua."
Obama causou polêmica por usar, durante o podcast, o termo "nigger" --grosso modo, equivalente a "preto" em inglês, mas com carga pejorativa, e não só descritiva, nos EUA: veículos de mídia não costumam reproduzir a chamada "N-word".
"Racismo, não estamos curados disso. E não é só uma questão de ser politicamente incorreto dizer em público 'preto' ['nigger']. As sociedades não apagam, da noite para o dia, o que aconteceu nos 200 a 300 anos anteriores."