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Gingrich busca redenção em campanha

Pré-candidato republicano à Casa Branca, ex-presidente da Câmara explora a imagem de 'pecador arrependido'

Principais críticas que sofre são por conta dos dois divórcios que teve; também foi acusado de vários desvios éticos

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A MIAMI

Quem vê os comícios de Newt Gingrich lotarem pela Flórida e pela Carolina do Sul mal imagina que há três meses era o aspirante republicano à Casa Branca que, em uma mesa de autógrafos em Washington, esperava por fãs que não vinham.

Redenção, porém, é o que tem definido Gingrich em seus 30 anos de política. Para sua candidatura vingar, algo que hoje parece possível embora não ainda provável, é redenção que ele busca.

"Toda pessoa que se diz evangélica viveu isso, se admitir pecadora e pedir redenção. Elas se identificam", diz Oran Smith, um cientista político convertido em líder cristão na Carolina do Sul, aludindo a uma fatia significativa do eleitorado.

A lista de perdões de Gingrich é longa e precedida de uma infância turbulenta.

Nascido na Pensilvânia em 1943, Gingrich mal chegou a conhecer o pai, que ele descreve como violento.

Mas dele herdou o "Newt" (de Newton). "Gingrich" é do segundo marido da mãe, um militar que o adotou. Nas poucas entrevistas sobre a infância, gosta de enfatizar que os dois pais também foram adotados e que cresceu com dúvidas de identidade.

Mais tarde, Gingrich teria suas próprias questões com o casamento. Foram três.

O primeiro com Jackie, que durou 19 anos e lhe deu duas filhas, acabou em divórcio, porque ele a traía.

O segundo, com Marianne, a então amante, durou 19 anos e acabou em divórcio, porque ele a traía.

O terceiro é com Callista, uma loira de cabelo chanel que toca trompa e canta no coral da igreja. Conheceram-se quando ela trabalhava como assessora na Câmara, e ele cumpria seu décimo mandato pela sulista Geórgia (nos EUA, os mandatos de deputado são de dois anos).

Casaram-se em 2000, com ele já fora do Congresso, e abriram uma produtora de filmes sobre conservadorismo político e religioso com títulos como "Redescobrindo Deus na América" e "Encontro com o Destino", sobre o presidente Ronald Reagan.

É Callista, 45, o ponto de inflexão na vida do político. Ela o trouxe para o catolicismo e o complementou com uma habilidade política que as duas ex não tinham.

Mas sendo a terceira, e ex-amante, ela atrai dúvidas sobre sua moral: tanto Jackie quanto Marianne tinham doenças graves quando traídas (a primeira, câncer; a segunda, esclerose múltipla).

E Gingrich, enquanto mantinha o caso, defendia o impeachment do presidente Bill Clinton (1993-2001) por mentir sobre a relação extraconjugal com uma estagiária.

Para os dirigentes do partido que lhe torcem o nariz, contudo, este não é seu maior telhado de vidro.

REPRIMENDA

Eleito presidente da Câmara em 1995, após ajudar a articular a "revolução republicana" que deu ao partido maioria na casa após quatro décadas, Gingrich foi pressionado pelos próprios correligionários a renunciar, o que aconteceu em 1999.

Foi o primeiro ocupante do cargo a receber uma reprimenda por desvio ético, além de multa de US$ 300 mil. A acusação envolve um pedido de isenção fiscal para um curso universitário que usou para fins políticos -queixa semelhante a muitas que abriu contra rivais.

Outras 83 denúncias contra ele na Comissão de Ética acabaram sendo retiradas.

Após o Congresso, sua carreira se voltou para a produtora e o lobby. Foi consultor de empresas de saúde cujos interesses defendera no Congresso. E passou a se dedicar mais à religião.

Mas a imagem de pecador arrependido contrasta com a grandiosidade que vê em si mesmo. Formado em história -lecionou e escreveu 23 livros-, costuma dizer que é um político "transformador", ou um "romântico" que chega a defender colônias espaciais como plano de governo.

À "Vanity Fair", em 1995, atribuiu esse vigor retórico e criativo -que atrai eleitores que o acham "brilhante" e piadas de rivais- à infância curta e à avó professora. E se definiu assim: "Sou uma pessoa mítica".

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