Maduro deporta mais de mil colombianos
Ação está entre medidas de Caracas para retaliar ataque contra militares; Santos diz que protegerá seus cidadãos
Venezuelano estaria usando episódio para tentar fortalecer o chavismo antes de eleição, dizem analistas
"Não nos faltará firmeza para defender nossos cidadãos, onde quer que sua segurança esteja ameaçada e seus direitos fundamentais, violentadosJuan Manuel Santospresidente da Colômbia
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, prometeu nesta segunda-feira (24) defender cidadãos colombianos afetados pela operação de segurança ordenada pelo governo venezuelano de Nicolás Maduro, com aparente motivação eleitoreira, na fronteira entre os dois países.
Maduro fechou dois postos fronteiriços, decretou Estado de exceção por 60 dias deportou mais de mil colombianos desde a última quinta (20) sob pretexto de retaliar um ataque a bala que feriu três soldados venezuelanos nessa região com forte presença de contrabandistas.
Tudo isso a pouco mais de três meses da eleição parlamentar de 6 de dezembro, na qual o governo Maduro chega com aprovação inferior a 25% e em meio a uma grave crise econômica.
"Não nos faltará firmeza para defender nossos cidadãos, onde quer que sua segurança esteja ameaçada e seus direitos fundamentais, violentados", disse Santos em comunicado.
Embora ressalte a necessidade de se manter a "prudência da diplomacia", o comunicado indica que Bogotá recuou da estratégia inicial de baixar a pressão, e elevou o tom às vésperas do encontro desta quarta (26) entre chanceleres dos dois países.
A reunião havia sido inicialmente prevista para 14 de setembro, mas foi antecipada.
Antes visto como mais um incidente numa fronteira com frequentes tensões, o caso gera preocupação e ansiedade nas duas capitais sul-americanas, a Folha apurou.
A Colômbia irritou-se depois que as forças de segurança venezuelanas arrancaram à força centenas de colombianos de suas casas e os deportaram sem dar chance de recolher seus pertences, segundo relatos.
A mídia colombiana diz que famílias foram separadas e casas, demolidas pelas forças venezuelanas. O governo Santos instalou, em Cúcuta, situada a 20 minutos de carro da fronteira, um posto de atendimento aos deportados.
Uma fonte colombiana admitiu à agência Associated Press que a maioria dos deportados estavam em situação irregular.
Nesta segunda, Maduro negou abusos e disse que "ama os colombianos". Mas ele também deixou claro que a operação na fronteira, que inclui o envio de centenas de soldados à região e o cerceamento de liberdades individuais, não tem prazo para terminar.
O presidente disse que as medidas são necessárias para combater contrabandistas que supostamente se aliaram a paramilitares supostamente comandados pelo ex-presidente colombiano Álvaro Uribe para atacar o socialismo venezuelano.
Na versão oficial venezuelana, os soldados alvejados na semana passada em circunstâncias ainda não esclarecidas foram vítimas dos mesmos grupos criminosos por trás da suposta "guerra econômica" e do desabastecimento na Venezuela.
Economistas contestam essa tese e dizem que são justamente as políticas socialistas, como controle de preços e de câmbio, que tornam vantajoso para colombianos comprarem alimentos na Venezuela.
O fechamento da fronteira, ainda que parcial, gera grandes prejuízos para comerciantes da região, que dependem do trânsito de mercadorias.
NACIONALISMO
Prevalece entre diplomatas e analistas independentes a avaliação de que as manobras de Maduro são uma tentativa de fortalecer o chavismo antes das parlamentárias.
"Estamos diante de medidas desesperadas pelas quais o governo aposta no nacionalismo e na xenofobia para levar os venezuelanos a cerrar fileiras com o governo", diz Gerardo Arellano, da Universidade Central da Venezuela.
O especialista em questões internacionais vê paralelo entre a crise com a Colômbia e a recente escalada da Venezuela contra a Guiana sob pretexto de anexar o território do Essequibo, disputado entre Caracas e Georgetown.
"Maduro percebeu que não obteve sequer o apoio de aliados, como Cuba, na questão do Essequibo e deixou o assunto morrer. A bola da vez é a Colômbia", afirma.
Um consultor estrangeiro que não quis se identificar vê gesto de afago de Maduro em direção a militares cada vez mais influentes no governo.