Para ministro, cabe a Brasil integrar região
Segundo Roberto Mangabeira Unger, um projeto de desenvolvimento na América do Sul é impossível sem o país
Chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos afirma que é preciso uma democratização do processo produtivo
O modelo de desenvolvimento da era Lula –o tripé composto por ampliação do consumo, da renda popular e da exportação de commodities– está exaurido.
O governo deveria buscar nova estratégia, que passa pela integração produtiva da América do Sul.
É a tese de Roberto Mangabeira Unger, ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência.
Unger não está pessimista com a situação do país: "Se não estivéssemos vivendo uma ou múltiplas crises, não estaríamos considerando alternativas. A maior aliada de quem quer transformação é a crise". Ele propõe "uma grande união de repúblicas sul-americanas", que devem ter como base não só acertos comerciais como o Mercosul ou práticas de concertação política como a Unasul.
Abaixo, trechos da entrevista concedida à Folha na quinta (27), no escritório da Presidência, em São Paulo.
Folha - Qual é seu diagnóstico sobre a integração regional?
Roberto Mangabeira Unger - Falta em toda a América do Sul convergência num projeto de desenvolvimento que dê certo. Esta convergência é impossível sem a participação decisiva do Brasil. Nossa tarefa prioritária é organizar uma nova estratégia de desenvolvimento nacional, baseada em capacitações educacionais e oportunidades produtivas, com uma qualificação e democratização do processo produtivo. Precisamos construir um produtivismo inclusivo e capacitador. O cumprimento dessa tarefa nos dá uma grande oportunidade para avançarmos na união sul-americana. Por isso iniciei uma série de viagens para vizinhos como Chile, Equador, Paraguai e, na sequência, Colômbia e Peru.
Qual o objetivo dessas visitas?
São três: explicar a construção da nova estratégia brasileira, com o ajuste fiscal como ponte entre a estratégia anterior e a nova; engajar os vizinhos na discussão sobre alternativas de desenvolvimento no continente; identificar ações concretas para ancorar a convergência no modelo de desenvolvimento. Esse processo vai ajudar a superar sectarismos comerciais, como a divisão entre Mercosul e Aliança do Pacífico ou entre países 'bolivarianos' e 'não bolivarianos'.
Quais medidas concretas?
Com o Equador, criar um novo modelo de escola média técnica capaz de priorizar a capacitação exigida pelas novas tecnologias. No Paraguai, discutir o modelo agropecuário –recuperação de pastagens degradadas, industrialização de produtos agropecuários. Com o Chile, o foco foi educação e o desenho institucional propício ao fomento de empresas de vanguarda.