Hungria usa gás para bloquear refugiados
Na fronteira com a Sérvia, polícia repreende com bombas, spray de pimenta e jatos d'água centenas de migrantes
Dezenas se feriram; premiê sérvio e ONU criticam ação húngara, cujo governo alegou legítima defesa
A tensão aumentou nesta quarta-feira (16) no principal posto da fronteira entre a Sérvia e a Hungria, quando centenas de refugiados e imigrantes que tentavam forçar a entrada no território húngaro foram reprimidos pela polícia do país com bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água.
Segundo um médico da cidade de Kanjiza, na Sérvia, pelo menos duas pessoas ficaram seriamente feridas e entre 200 e 300 foram atendidas apresentando cortes, queimaduras, hematomas e mal estar por inalação de gás –entre elas, várias crianças.
A Hungria avisou a Sérvia que, após o tumulto, deixará a passagem de Roszke fechada por 30 dias.
Os migrantes teriam forçado a cerca de arame farpado construída por Budapeste na divisa entre os dois países. Também há imagens de pessoas jogando garrafas de plástico e pedras nos policiais.
Autoridades húngaras sustentam que as forças do país agiram em "legítima defesa" diante do "ataque agressivo". "Vamos aplicar todos os meios legais para proteger a segurança da fronteira da Hungria", disse o assessor de segurança interna do premiê Viktor Orban, Gyorgy Bakondi.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, no entanto, classificou o comportamento da polícia húngara como inaceitável e disse ter ficado "chocado" com as imagens.
O premiê sérvio, Aleksandar Vucic, também condenou o "tratamento brutal" dado aos migrantes e disse que enviará mais policiais à região para proteger os estrangeiros.
"Não vamos permitir que ninguém nos humilhe nem que atire gás lacrimogêneo em território sérvio", disse Vucic.
Na última terça (15), entrou em vigor uma nova lei na Hungria que torna crime a entrada ilegal no país e até danificar a cerca na fronteira. Segundo o governo, pelo menos 519 pessoas já foram detidas desde então –nove já foram condenadas.
A Hungria é uma das principais portas de entrada para a União Europeia. Segundo a polícia húngara, mais de 200 mil refugiados e imigrantes entraram no país desde o início do ano.
CROÁCIA
Diante do reforço da segurança e do recrudescimento da polícia húngara na fronteira com a Sérvia, centenas de migrantes começaram a tentar uma rota mais longa e complicada, pela Croácia. Segundo o governo do país, nesta semana, 1.300 pessoas chegaram à Croácia em único dia.
O trajeto, contudo, apresenta riscos. Um centro que monitora minas terrestres no país disse que ainda há 500 quilômetros quadrados de território que podem abrigar os explosivos, uma herança do conflito nos Bálcãs.
O governo estaria trabalhando na retirada das minas no trajeto mais provável para os refugiados. Um especialista em minas, contudo, foi morto no início desta semana quando uma delas explodiu.
O premiê croata, Zoran Milanovic, disse que seu país "está pronto para receber" os refugiados. O húngaro, por sua vez, anunciou na quarta que erguerá uma cerca em partes da fronteira com a Croácia. Ele prometeu fazer o mesmo na divisa com a Romênia.