Índice geral Mundo
Mundo
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Medo muda a rotina de capital da Síria

Depois de quase um ano de revolta contra Assad, Damasco torna-se palco de conflitos entre o governo e rebeldes

Moradores relatam que é a primeira vez que sentem efeitos da violência, iniciada no último mês de março

KAREN MARÓN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM DAMASCO (SÍRIA)

"É a primeira vez que sinto medo. Estou realmente preocupado", afirma Samer Darbouli, 31, advogado nascido em Homs e morador de Damasco.

A batalha pela cidade começou há mais de um mês, mas na última semana a escalada da violência converteu a capital síria em objetivo crucial para os grupos armados dissidentes, que querem forçar a queda do governo Bashar Assad, no poder desde 2000.

O conflito começou em março e deixou mais de 5.000 mortos. "Minha mãe me liga de hora em hora. O som dos disparos de fuzis e canhões é constante", diz Samer, aflito.

As barricadas de cimento foram construídas em tempo recorde e se multiplicam pela cidade, diante das sedes dos ministérios e das repartições públicas.

O Ministério do Interior está protegido por uma dupla muralha de cinco metros de altura, cuja construção foi concluída dois dias atrás.

Diversas embaixadas instalaram cercas de arame farpado sobre suas imponentes muralhas, e os postos de controle militar estão se espalhando pelas ruas.

No topo dos edifícios do governo, considerados objetivos militares pelas forças do rebelde Exército Livre da Síria, grupos de atiradores de elite vigiam do alto o movimento nas ruas.

Os acessos estão sob vigilância do Exército, que estabeleceu controles de movimento rigorosos, e os apagões são cada vez mais frequentes e prolongados, como consequência de sabotagens que os grupos rebeldes praticam contra as redes elétricas.

A apenas meia hora de distância de Damasco, uma delegacia foi incendiada, recentemente. Os subúrbios da capital se converteram em polo de operações dos rebeldes, e o regime tenta sufocar o levante por meio de operações militares em grande escala.

O controle da capital do país é básico para a vitória das aspirações oposicionistas, e o regime tem consciência disso. E é por essa razão que está tentando blindar Damasco, em uma semana crucial na qual a Liga Árabe e a União Europeia apresentarão um plano conjunto ao Conselho de Segurança da ONU.

ÀS PORTAS DE DAMASCO

A cidade habitada mais antiga do mundo -em companhia de Jericó, citada no livro do Gênesis- sofre um cerco que começa nos subúrbios.

Nas regiões centrais, os opositores estão desprovidos de armas, mas as manifestações se multiplicam.

Até o momento, os damascenos estavam acompanhando o movimento pela televisão e o conflito lhes parecia distante. Mas a sensação mudou, agora. "Confiamos no governo de Assad. Ele vai nos proteger", disse o estudante Ali, 27, sem aparentar muita convicção.

No domingo, o governo começou uma ofensiva. Em Al Ghouta -oásis, em árabe-, na zona leste da capital, testemunhas afirmam que "tanques e artilharia pesada estão em uso".

"Ouvimos explosões e tiros", dizem ativistas entrevistados, que falam em "combates de rua em rua" e informam que "todos os acessos estão bloqueados".

As mídias oficiais contam outra história: dizem ser "parte dos esforços habituais das forças de segurança para manter a ordem".

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.