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Cerco econômico ao regime abala o bolso dos cidadãos

KAREN MARÓN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM DAMASCO (SÍRIA)

"A cada dia, a situação piora. Não há turistas, e os viajantes de outras províncias têm medo de vir até aqui", diz Juan, tomando café com sementes de cardamomo em sua loja de artigos de couro.

O comerciante voltou da Colômbia para a Síria há 25 anos e criou sua empresa familiar no mercado de Al Hamidyya, em Damasco.

Ele começa a sentir a asfixia econômica causada por 11 meses de revolta interna pró-democracia e por sanções comerciais impostas ao país por potências estrangeiras.

"Estamos nos mantendo com as economias guardadas e com a presença dos xiitas que vêm visitar seus lugares sagrados", disse.

Mas no grande mercado já não se ouvem os gritos dos vendedores anunciando seus produtos, e não há mais o caos das multidões de turistas.

"O preço do gás subiu 50%, o do chá, 30%; todos os alimentos sofreram aumentos", diz a dona de casa Afnan, 52.

"Apagões, altas nos preços de produtos, desvalorização da moeda -esses são alguns dos impactos que a Síria sofre hoje em razão das sanções, e eles afetam principalmente o povo", disse à Folha o ministro da Economia e Comércio sírio, Nidal Shaar.

"As represálias [internacionais] têm caráter e intenção política, mas é o povo que sofre as consequências na vida cotidiana", disse Shaar.

Segundo o ministro, a Síria enfrenta hoje "uma incapacidade de importar produtos e de exportar petróleo".

O foco do comércio exterior é a União Europeia, que impôs sanções econômicas à Síria para pressionar pelo fim da violência do regime de Bashar Assad na repressão aos protestos. A ONU calcula em mais de 5.400 os mortos desde o início da revolta.

A Turquia, com quem a Síria assinou tratado de livre comércio, também decretou sanções, o que fez disparar o preço de suas mercadorias no mercado interno sírio.

"A essa hostilidade econômica é preciso somar os danos ocasionados pela violência terrorista de grupos armados que sabotam oleodutos, gasodutos, descarrilam trens carregados de combustíveis e atacam e matam engenheiros elétricos para afetar a geração de energia no período de maior consumo, o inverno", afirmou Shaar.

Segundo analistas, a deterioração na vida cotidiana por efeito da asfixia econômica pode servir como causa final da queda do regime.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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