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Elizabeth 2ª completa 60 anos de trono

Segundo especialistas, rainha do Reino Unido uniu estabilidade e capacidade de se adaptar a um 'mundo midiático'

Monarca mudou seu estilo a partir do fim da década de 60; para historiadores, ela não cogita ideia de abdicar

RODRIGO RUSSO
DE LONDRES

Em 6 de fevereiro de 1952, aos 25 anos, Elizabeth Alexandra Mary soube no Quênia da morte de seu pai, Albert Frederick Arthur George, 56. A triste notícia trazia uma importante e imediata consequência: ela se tornava rainha do Reino Unido.

Hoje, aos 85, Elizabeth 2ª se torna a segunda monarca britânica a celebrar o jubileu de diamante: 60 anos de reinado. Apenas a rainha Vitória (1819-1901) alcançou mais tempo de reinado, 63 anos.

Alan Sked, professor de história da London School of Economics e especialista em monarquia, pondera: "Naquele tempo, 80 era idade avançada; hoje mulheres têm maior expectativa de vida".

A diferença, Sked continua, é que a maior parte das mulheres se aposenta aos 60 anos, enquanto a rainha já ultrapassou essa marca há 25 anos e segue trabalhando.

O jornalista Robert Hardman, autor da biografia "Our Queen" ("nossa rainha", sem edição brasileira), conta à Folha que o início de seu reinado foi muito tradicional, obediente à memória do pai, o rei George 6º (tema do filme "O Discurso do Rei").

A mudança de estilo foi gradual, e Hardman destaca como marcos o fim dos anos 60 e o início dos anos 70. Com as mudanças sociais, a monarquia passou a ser vista por alguns como anacrônica.

O biógrafo destaca duas ações: em 1969, a exibição de um documentário sobre a família real, mostrada como uma "família comum", e nos anos 70 a introdução dos passeios reais informais da rainha e do príncipe Philip, seu marido, quando iam às ruas cumprimentar as pessoas.

O documentário, conta Hardman, inclui cenas da visita de Elizabeth ao Brasil em 1968: "Havia mulheres de biquíni acenando para ela no Rio, algo bastante exótico para a TV daquele tempo". Na visita, a rainha participou da inauguração da atual sede do Masp, na avenida Paulista.

Para o jornalista, ela entendeu melhor que seus predecessores a importância de aparecer e ser relevante -o maior desafio de uma monarquia. "Eu tenho que ser vista para que acreditem em mim", a rainha costuma dizer.

MUNDO EM MUDANÇA

Hugo Vickers, historiador e biógrafo da rainha-mãe, também Elizabeth, que morreu aos 101 anos, em 2002, diz que o reinado é caracterizado pela estabilidade em meio a um mundo em transição.

"A rainha aceitou as mudanças conforme elas aconteceram e foi um ponto de estabilidade: ao assumir, era um país com poucas TVs, o homem não tinha ido à Lua, não havia internet. E ela nunca fez concessões, sempre teve clareza em sua missão."

Vickers continua: "Em 1952, ela provavelmente era a única mulher com um trabalho importante no país inteiro. Agora há muitas mulheres em cargos de liderança".

A capacidade de adaptação e a menor formalidade são citadas pelos três especialistas ouvidos pela Folha como o maior trunfo de seu reinado. E o período mais delicado foram os anos 90, com o midiático divórcio do príncipe Charles e da princesa Diana e confissões públicas de casos extraconjugais.

Para Sked, não há um ponto fraco óbvio no reinado de Elizabeth 2ª. "Até os republicanos nos outros países da Commonwealth falam que só vão abolir a monarquia depois que a rainha morrer. Por que colocar algum político entediante ou corrupto na posição? É bom ter uma rainha."

Para Hardman, a rainha não abdicará nos próximos anos. Charles é o sucessor natural e deve ser o próximo rei.

As comemorações oficiais do jubileu de diamante acontecerão em junho, pouco antes da Olimpíada, que também terá a presença real.

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