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Atenas amanhece em cinzas depois de dia de violência

Revolta contra novo pacote de austeridade terminou com 50 prédios incendiados no centro da capital grega

Vandalismo atingiu semáforos, pontos de ônibus, metrô e bancos; atenienses veem reação legítima, mas excessiva

RODRIGO RUSSO
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

No fim da tarde de ontem, ainda era possível sentir o cheiro de queimado vindo do prédio em que funcionava o cinema Attikon, a poucas quadras da praça Sintagma, onde 80 mil pessoas protestaram no domingo contra as medidas de austeridade exigidas da Grécia.

Os conflitos com a polícia deixaram mais de 170 feridos, entre eles, 109 policiais. Uma parcela dos manifestantes começou a depredar a cidade, ateando fogo e atirando pedras por onde passavam. Cerca de 50 prédios foram incendiados no centro de Atenas.

Uma aglomeração parava em frente ao Attikon para tirar fotografias. "É muito triste, me sinto deprimida ao ver o cinema dessa forma, além de toda a situação que já vivemos", disse Angeliki Kallimani, 25.

Para Kallimani, os protestos são uma reação legítima à crise, "mas tudo tem limites". Ela disse que participou do movimento de "indignados" (jovens sem emprego) no ano passado, mas que não compareceu à manifestação de domingo por medo do que poderia acontecer.

O Attikon funcionava em um edifício neoclássico do século 19 e era um marco cultural da cidade. No fim do dia, três caminhões de bombeiros ainda trabalhavam para controlar o incêndio no local.

Pichações estavam por toda a parte no centro. O símbolo do movimento anarquista era uma unanimidade. Cabines telefônicas, pontos de ônibus, estações de metrô, galerias comerciais e bancos sofreram com o vandalismo. Partes de pedra das calçadas foram usadas nos ataques.

Com boa parte dos semáforos destruídos, guardas organizavam o trânsito.

Muitas das lojas no entorno da praça Sintagma preferiram não abrir as portas. Contudo, o clima no local e na praça Omônia, pontos de concentração dos protestos no domingo, era tranquilo.

Dmitris Voulgaris, comerciante de roupas na rua Ermou, que começa na praça Sintagma, contou à Folha que a loja da família só não foi incendiada graças ao primo, que ficou na porta até as 3h argumentando que os manifestantes acabariam com seu sustento.

"É um exagero o que fizeram, ainda mais com desemprego crescente no país. Muitas pessoas deixarão de trabalhar nos próximos dias por conta dos reparos necessários, ficando sem o salário."

O tio de Dmitris, Kostas Voulgaris, afirma que, com a crise, os lucros da loja tiveram redução de 50% no ano passado em relação a 2010. "Com o corte no salário mínimo que foi aprovado, terei que reduzir ainda mais os meus preços", lamenta.

Caminhões com placas de vidro, para substituir vitrines quebradas por pedras, também eram parte do cenário no centro da cidade. Funcionários de lojas atingidas preferiam não comentar os acontecimentos, mesmo sem dizer seus nomes, por medo de possíveis represálias.

Chris Panoeoulos, matemático que fotograva o chamuscado prédio do Attikon, se declarou extremamente desconfiado dos atos de vandalismo. "As pessoas em geral estão protestando apenas por conta da crise financeira, o que é legítimo. Mas esse grupo que ateou fogo não tem a ver com isso -estão tirando proveito dessa situação."

O matemático sugere que a culpa pode ser de "embaixadas interessadas em explorar a crise na Grécia". Quando questionado sobre o futuro com a aprovação do pacote, Panoeoulos diz que viverá tempos difíceis, "incompatíveis com o estilo de vida dos últimos anos".

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