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Paul Krugman

Não ao bem-estar, sim à mamata

Eleitores ficariam zangados caso os conservadores impusessem sua agenda de redução do governo

Primeiro, Atlas deu de ombros. Depois, coçou a cabeça, intrigado.

Os republicanos modernos são muito, muito conservadores; seria possível dizer (se você fosse Mitt Romney) que são severamente conservadores. Os cientistas políticos que estudam o resultado de votações no Congresso norte-americano para pesquisar esse tipo de questão constataram que a atual maioria republicana na Câmara dos Representantes (deputados) é a mais conservadora desde 1879.

E o que esses severos conservadores odeiam acima de tudo é a dependência de programas do governo. Rick Santorum declarou que o presidente Barack Obama está "viciando os Estados Unidos no narcótico da dependência". Romney alerta que programas governamentais "fomentam a passividade e a indolência". Muitos leitores do "New York Times" ficaram, portanto, surpresos ao descobrir, em um artigo excelente que o jornal publicou na semana passada, que as regiões dos EUA mais viciadas no narcótico de Santorum -aquelas nas quais programas governamentais respondem pela maior proporção da renda pessoal- são exatamente as que elegem esses severos conservadores.

O artigo expunha seu argumento por meio de mapas que mostram a distribuição da dependência, mas é possível encontrar a mesma narrativa em uma comparação mais formal. Aaron Carroll, da Universidade de Indiana, calculou que, em 2010, os moradores dos 10 Estados que uma pesquisa Gallup define como "os mais conservadores" recebiam 21,2% de sua renda em forma de transferências do governo, enquanto nos 10 Estados "mais progressistas" essa proporção era de apenas 17,1%.

Mas por que as regiões que mais dependem dessa assistência elegem políticos que desejam pôr fim a ela? Encontrei três explicações principais. Primeiro, há a tese de Thomas Frank, que no livro "What's the Matter With Kansas?" conta que a classe trabalhadora é induzida a votar contra seus interesses em função de questões sociais que os republicanos exploram. E é verdade que, por exemplo, os norte-americanos que costumam ir à igreja com mais regularidade tendem a votar nos republicanos.

Ainda assim, como aponta Andrew Gelman, da Universidade Colúmbia, a divisão mais notável entre o eleitorado conservador e o progressista ocorre entre as pessoas de maior renda.

Por fim, Suzanne Mettler, da Universidade Cornell, aponta que muitos beneficiários de programas do governo parecem confusos. Ela informa que 44% dos beneficiários da Previdência, 43% dos beneficiários de salário-desemprego e 40% dos beneficiários do programa federal de saúde Medicare afirmam que "não usam programas do governo".

A mensagem que encontro nisso tudo é que os sabichões que descrevem os Estados Unidos como um país fundamentalmente conservador estão errados.

Sim, os eleitores enviaram a Washington alguns conservadores severos. Mas esses mesmos eleitores ficariam zangados e chocados caso esses políticos impusessem de maneira concreta sua agenda de redução no tamanho do governo dos Estados Unidos.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

AMANHÃ EM MUNDO
Clóvis Rossi

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