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Gregos descartam receita da Argentina

Para economistas do país, eventual saída do euro e desvalorização cambial não impulsionariam as exportações

Ministro das Finanças da Alemanha quer impedir a liberação de um novo empréstimo de € 130 bi para Atenas

Louisa Gouliamaki/France Presse
Em frente ao Parlamento, gregos dizem "obrigado" às cidades europeias que protestaram contra pacote de austeridade
Em frente ao Parlamento, gregos dizem "obrigado" às cidades europeias que protestaram contra pacote de austeridade

RODRIGO RUSSO
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

A Europa se sente cada vez mais confortável em impor à Grécia medidas de austeridade por ter melhores condições de lidar com um calote da dívida. Mas essa alternativa, que forçaria o país a sair da zona do euro, é inviável para Atenas, concluem economistas ouvidos pela Folha.

"O país tem uma base muito fraca de exportações, então a desvalorização da sua moeda não produziria um aumento de exportações, como ocorreu na Argentina", explica Vassilis Monastiriotis, do Instituto Europeu e do Observatório Helênico da London School of Economics.

Monastiriotis se refere à Argentina porque, em 2001, o país decretou moratória. Com a desvalorização do câmbio e o incremento nas exportações, experimentou rápida recuperação após o default.

Para Spyros Blavoukos, professor da Universidade de Atenas de Economia e Administração, o caso grego teria o mesmo desfecho do argentino (calote), se o país não integrasse uma união monetária. "Houve grande investimento político na zona do euro, e traria abalo um país não pagar sua dívida", explica.

Apesar disso, as tensões são cada vez maiores. O ministro das Finanças da Alemanha quer impedir a liberação de um novo empréstimo, de € 130 bilhões, a Atenas.

"Fica claro que a Grécia já não apresenta tantos riscos, se quebrar, aos demais países, por isso o endurecimento do discurso. Não haverá colapso da zona do euro, mas certamente haverá um efeito dominó em outros países", diz Blavoukos.

Monastiriotis vai além: "Está correto concluir que a Alemanha está forçando, com precisão cirúrgica, eu diria, a Grécia a sair do euro".

Segundo ele, a Grécia não tem "nem a faca nem o queijo nas mãos", tendo que convencer a "troica" (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) e os mercados de que implementará as medidas de austeridade, por mais duras e injustas que sejam.

Monastiriotis diz que a "troica" pede ajustes neoliberais, salários mais baixos e flexibilidade nas relações de trabalho por questões ideológicas e por não acreditar que os gregos farão reformas.

Blavoukos critica a lógica meramente numérica das decisões da "troica": "A União Europeia entende que há reformas necessárias, mas precisa levar em consideração que essas medidas não afetam números, afetam pessoas, no fim das contas".

Monastiriotis projeta um cenário desolador para a saída da Grécia da zona do euro. "Como o país é seriamente dependente no setor energético, haveria grandes pressões inflacionárias, que reduziriam ainda mais a renda da população, notadamente dos mais pobres."

Já Blavoukos aposta em um cenário pós-crise otimista. "É importante que a Grécia esteja na União Europeia, para o salto que virá após a crise".

Ontem, o gabinete grego aprovou mais € 325 milhões em cortes nas áreas de saúde, aposentadoria e defesa _uma exigência da "troica" para liberar o resgate.

O governo estabeleceu ainda para entre 8 e 11 de março a troca de cerca de €200 bilhões de dívida nas mãos de credores privados. A troca viria com calote de 70%, ainda pendente de um acordo.

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