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Gregos descartam receita da Argentina Para economistas do país, eventual saída do euro e desvalorização cambial não impulsionariam as exportações Ministro das Finanças da Alemanha quer impedir a liberação de um novo empréstimo de € 130 bi para Atenas
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS A Europa se sente cada vez mais confortável em impor à Grécia medidas de austeridade por ter melhores condições de lidar com um calote da dívida. Mas essa alternativa, que forçaria o país a sair da zona do euro, é inviável para Atenas, concluem economistas ouvidos pela Folha. "O país tem uma base muito fraca de exportações, então a desvalorização da sua moeda não produziria um aumento de exportações, como ocorreu na Argentina", explica Vassilis Monastiriotis, do Instituto Europeu e do Observatório Helênico da London School of Economics. Monastiriotis se refere à Argentina porque, em 2001, o país decretou moratória. Com a desvalorização do câmbio e o incremento nas exportações, experimentou rápida recuperação após o default. Para Spyros Blavoukos, professor da Universidade de Atenas de Economia e Administração, o caso grego teria o mesmo desfecho do argentino (calote), se o país não integrasse uma união monetária. "Houve grande investimento político na zona do euro, e traria abalo um país não pagar sua dívida", explica. Apesar disso, as tensões são cada vez maiores. O ministro das Finanças da Alemanha quer impedir a liberação de um novo empréstimo, de € 130 bilhões, a Atenas. "Fica claro que a Grécia já não apresenta tantos riscos, se quebrar, aos demais países, por isso o endurecimento do discurso. Não haverá colapso da zona do euro, mas certamente haverá um efeito dominó em outros países", diz Blavoukos. Monastiriotis vai além: "Está correto concluir que a Alemanha está forçando, com precisão cirúrgica, eu diria, a Grécia a sair do euro". Segundo ele, a Grécia não tem "nem a faca nem o queijo nas mãos", tendo que convencer a "troica" (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) e os mercados de que implementará as medidas de austeridade, por mais duras e injustas que sejam. Monastiriotis diz que a "troica" pede ajustes neoliberais, salários mais baixos e flexibilidade nas relações de trabalho por questões ideológicas e por não acreditar que os gregos farão reformas. Blavoukos critica a lógica meramente numérica das decisões da "troica": "A União Europeia entende que há reformas necessárias, mas precisa levar em consideração que essas medidas não afetam números, afetam pessoas, no fim das contas". Monastiriotis projeta um cenário desolador para a saída da Grécia da zona do euro. "Como o país é seriamente dependente no setor energético, haveria grandes pressões inflacionárias, que reduziriam ainda mais a renda da população, notadamente dos mais pobres." Já Blavoukos aposta em um cenário pós-crise otimista. "É importante que a Grécia esteja na União Europeia, para o salto que virá após a crise". Ontem, o gabinete grego aprovou mais € 325 milhões em cortes nas áreas de saúde, aposentadoria e defesa _uma exigência da "troica" para liberar o resgate. O governo estabeleceu ainda para entre 8 e 11 de março a troca de cerca de €200 bilhões de dívida nas mãos de credores privados. A troca viria com calote de 70%, ainda pendente de um acordo. Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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