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'Obama não cumpriu promessas para AL'

Republicano ultraconservador diz que governo americano não dedicou tempo nem agenda adequados à região

Para Roger Noriega, EUA devem buscar comportamento pró-ativo se quiserem competir com a China

VERENA FORNETTI
DE NOVA YORK

O ultraconservador Roger Noriega, subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental no governo Bush, faz balanço negativo da administração Barack Obama, iniciada em 2009. Para ele, em três anos o presidente dos EUA não dedicou tempo suficiente para criar agenda adequada com países como o Brasil.

Na eleição de 2008, o embaixador assessorou Mitt Romney, que hoje lidera a corrida republicana para a indicação do partido à candidatura presidencial.

Leia a entrevista concedida à Folha por e-mail.

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Folha - Como o sr. avalia a política de Barack Obama para a América Latina nesses três anos de governo?

Roger Noriega - Infelizmente, o governo Obama não correspondeu às expectativas. Ele não investiu tempo suficiente para desenvolver um relacionamento pessoal com o presidente do Brasil -país que é global e tem importância regional.

Nosso relacionamento perdeu muito ímpeto. Em geral, o isolamento dos EUA com a Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe) e a ineficácia da OEA (Organização dos Estados Americanos) minou o consenso multilateral nas Américas.

Com a saída dos EUA de duas guerras, haverá uma reorientação de foco na diplomacia americana?

A realidade é que tendemos a nos concentrar em notícias ruins ou em crises. Então eu acredito que estejamos mais propensos a prestar atenção à violência relacionada ao tráfico no México e na América Central.

O que é necessário para as Américas é a construção de uma agenda positiva. Não creio que os latino-americanos estejam ansiosos por palestras didáticas dos Estados Unidos. Mas eles querem ver os EUA se comportarem como um parceiro sério e sincero em relação às suas aspirações democráticas e de mercado livre.

Isso é precisamente o que Obama prometeu, mas, com todo o respeito, ele não tem seguido com ações concretas.

Quais são as perspectivas para a América Latina em um eventual segundo governo Obama?

Não tenho grandes expectativas de que o governo daria mais atenção à região. Por exemplo, ele nomeou alguém de carreira no serviço exterior para o cargo de secretário assistente de Estado para a região.

Existe alguém que esteja próximo a ele politicamente que poderia representar melhor seus pontos de vista e, muito mais importante, dar maior peso político e energia à sua política para região.

E se houver uma vitória republicana nas eleições presidenciais deste ano?

Tenho ouvido cada candidato republicano expressar a sua preocupação de que o presidente não prestou atenção suficiente à região. Por exemplo, eles estão preocupados com os desafios de segurança representados pelas atividades agressivas do Irã em nossa região.

No entanto, eles também devem ter uma política pró-ativa para se engajar na região e tornar os EUA um parceiro ativo no desenvolvimento econômico e social das Américas.

As Américas podem competir com a China, se trabalharmos juntos.

Comercialmente, os EUA perderam espaço para a China em muitos mercados, incluindo o Brasil. Com a crise econômica, a América Latina pode ganhar apelo na política comercial dos EUA?

O envolvimento da China na América pode produzir vantagens positivas para a região. Mas, muitas vezes, a China está extraindo matérias-primas e não deixando muito para trás para beneficiar o desenvolvimento social e econômico da América Latina.

Os EUA ainda são o investidor direto número um na região, e nós tendemos a criar valor para os nossos parceiros na região.

Perdemos alguns países em que a China se tornou o principal parceiro comercial. Mas como a nossa economia se recupera, eu acredito que nós olharemos para as Américas como nosso parceiro comercial natural, que compartilha valores e compromisso com o crescimento do mercado livre.

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