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Na Espanha em crise econômica, culto a franquismo recupera fôlego

Vale dos Caídos sintetiza disputa em torno de legado de ditador

LUISA BELCHIOR
ENVIADA ESPECIAL AO VALE DOS CAÍDOS

Nem os 75 anos desde a Guerra Civil, os 36 anos de ditadura ou os últimos três anos de crise econômica conseguem apagar rastros de influência do general Francisco Franco na Espanha.

Mesmo após comandar um severo regime com perseguição e morte a pelo menos 34 mil pessoas entre 1939 e 1975, o ex-ditador ainda angaria admiração e respeito entre espanhóis, além de manchetes nos jornais, brigas na Justiça e atos oficiais.

No dia a dia, o general está longe de ser unanimidade, e sua imagem passa batida entre jovens e imigrantes. Mas os rastros pró-franquistas ficaram mais evidentes em 2011, quando se completaram 75 anos do início da Guerra Civil, um combate entre forças republicanas e nacionalistas, lideradas por Franco, que terminou com a ascensão do general ao poder. E com o aprofundamento da crise econômica.

"Nos anos de Franco não tínhamos problema de emprego. Não se podia fazer greve nem protestar, mas havia trabalho para todos", diz a economista aposentada María de Lourdes Soto, 69.

A discussão foi reativada em torno do Vale dos Caídos, o memorial a 50 km de Madri onde está o mausoléu de Franco. Em novembro, uma comissão nomeada pelo ex-premiê socialista José Luis Rodríguez Zapatero recomendou a retirada dos restos mortais do general dali.

Construído há 50 anos a mando do próprio Franco, o Vale dos Caídos se transformou no símbolo concreto da resistência franquista. Mas o memorial também abriga os restos mortais de 34 mil vítimas do conflito, depositados numa sala a menos de 50 metros da lápide do general. Todos estão dentro da basílica do vale.

"A razão da nossa recomendação é que Franco é a única pessoa que, sem ter falecido na Guerra Civil, está enterrado na basílica", disse Virgílio Zapatero, um dos membros da comissão.

No dia em que a reportagem visitou o vale, as irmãs Maria Luisa Gargallo, 67, e Mercedes Gargallo, 63, de Barcelona, prestavam homenagem ao ex-ditador.

"Hoje fica bem falar mal de Franco, mas as pessoas se esquecem das coisas boas que ele fez, como hospitais, melhora nas pensões. Estávamos muito melhores com ele que com Zapatero."

A decisão de retirar ou não os restos de Franco dali cabe agora ao novo governo, do conservador Mariano Rajoy. Seu partido, que angaria simpatia de pró-franquistas, costuma se abster em temas relacionados a Franco.

"A direita e esse novo governo querem distância do assunto", avalia o historiador Julio Aróstegui, da Universidade Complutense de Madri.

Mas as associações de familiares de vítimas do franquismo e da Guerra Civil prometem pressionar o governo, com quem devem travar mais brigas em 2012.

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