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Grécia aceita tutela em troca de dinheiro

União Europeia e FMI darão empréstimo de € 130 bi, mas vão fiscalizar no país se metas estão sendo cumpridas

Analistas acreditam que verba e cortes podem ser insuficientes e que futuro será calote ou novo pacote de ajuda

RODRIGO RUSSO
DE LONDRES

A Grécia se comprometeu com mais cortes de gastos e abriu mão de parte de sua soberania econômica para enfim ver aprovado pela União Europeia o segundo pacote de ajuda no valor de € 130 bilhões (R$ 293 bilhões).

Mas muitos acham insuficiente e que o país ou terá que dar calote nas dívidas ou precisará de outro empréstimo.

A aprovação veio na madrugada de ontem após 13 horas de tensas negociações entre os ministros das Finanças da zona do euro.

Para ter acesso ao novo empréstimo, o governo de Lucas Papademos precisou concordar com a presença permanente de uma equipe da "troica" (Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional) no país, que fiscalizará se as metas acordadas estão sendo cumpridas.

A Grécia também deverá criar temporariamente uma conta vinculada, priorizando o pagamento da dívida, e assumiu o compromisso de incluir em sua Constituição que a prioridade dos gastos públicos será honrar esses compromissos financeiros.

Mas não é apenas o país que precisa aceitar perdas maiores do que esperava.

Para que a dívida grega caia dos atuais 160% do PIB (Produto Interno Bruto) para 120,5% no ano de 2020, os credores do setor privado foram pressionados a novos termos em uma renegociação de seus títulos.

Agora, terão de aceitar perdas de 53,5% do valor nominal dos títulos. O acordo anterior previa perda de 50%.

O governo da Grécia diz que o Parlamento deve votar em breve a legislação necessária para que o empréstimo de € 130 bilhões e a quitação da dívida aconteçam antes de 15 de março, a tempo de evitar o calote.

Uma parte da dívida, de € 14,5 bilhões, vence no dia 20 de março.

Parlamentos de alguns países da zona do euro, como Alemanha e Finlândia, também precisam aprovar a liberação dos recursos.

ESFORÇOS ADICIONAIS

Em comunicado, o presidente do grupo de ministros de Finanças, Jean Claude Juncker, declarou que "o Eurogrupo tem total conhecimento dos significativos esforços já feitos pelos cidadãos gregos, mas também ressalta que esforços adicionais da sociedade grega são necessários para que a economia volte a um caminho de crescimento sustentável".

Juncker e a chefe do FMI (Fundo Monetário Internacional), Christine Lagarde, disseram que a Grécia precisa implementar as ações de austeridade até o fim do mês para que o empréstimo seja assinado.

Um relatório produzido para a "troica" obtido pela Reuters e pelo "Financial Times", porém, indica que o caminho para a Grécia continua incerto, e não descarta a hipótese de que mais recursos internacionais sejam necessários nos próximos anos para evitar a inadimplência do país.

O documento põe em dúvida a sustentabilidade do plano de resgate atual e afirma que seus principais objetivos, a redução da dívida e o aumento de competitividade, não são compatíveis, pois o crescimento geraria dívida maior no curto prazo.

Além de se comprometer com reformas estruturais, a Grécia já concordou em implementar medidas de austeridade bastante impopulares, como redução e congelamento de salários e aposentadorias e a diminuição no número de empresas e empregos públicos -150 mil funcionários precisam ser demitidos até o ano de 2015.

Também houve corte de benefícios, o que jogou mais gregos na pobreza. Desde a aprovação do primeiro pacote, em maio de 2010, o país registra conflitos nas ruas.

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